O GLOBO - 09/10
No relatório do FMI e na entrevista do economista-chefe Olivier Blanchard, o impasse político americano foi colocado de forma curiosa: admitem que se ocorrer o calote da dívida haverá uma grave crise, mas afirmam que não trabalham com a hipótese de que isso vai acontecer. Mas o governo americano e a oposição no Congresso continuam trocando acusações, em vez de negociar.
O recado de ontem, dado no documento que o Fundo Monetário divulga nas suas reuniões, é o de que a economia mundial está em transição para uma nova fase: os países desenvolvidos estão um pouco melhores, e os países emergentes com um crescimento menor do que o previsto anteriormente.
A Europa está em recessão, mas sairá dela no ano que vem. Os Estados Unidos vão crescer em 2014 mais do que neste ano. Todos os países emergentes terão taxas de crescimento menores do que se previa — apesar de a China continuar em torno de 7% — e alguns enfrentarão dificuldades extras quando houver a redução dos estímulos monetários americanos.
O Brasil é o que terá o menor crescimento entre os emergentes no ano que vem — vai repetir, segundo o FMI, a mesma taxa de 2,5% de 2013. Crescerá menos que a média mundial.
O FMI cortou em 0,7 ponto a previsão de crescimento do Brasil para 2014 e levou a taxa do PIB para o mesmo patamar previsto pelas instituições financeiras brasileiras que são consultadas pelo Banco Central para o Boletim Focus, 2,47%. Se o cenário se confirmar, o país terá um crescimento médio de apenas 2,15% ao ano, entre 2011 e 2014, o pior desempenho do Plano Real, comparável ao do segundo mandado do ex-presidente Fernando Henrique.
Mas esse não é o único problema brasileiro. O Fundo acha que em alguns países são urgentes passos para a redução da dívida, do déficit público e de gastos definidos como “quase fiscais”.
Entre os países nessa situação está o Brasil. Aqui, sabe-se do que o FMI está falando. Há uma expansão grande de gastos através de bancos públicos, financiados por endividamento do governo. E esse passou a ser um dos maiores riscos da política econômica brasileira.
Outros emergentes também estão reduzindo a marcha. A previsão da Índia caiu bastante. Agora é de 3,8% de crescimento este ano e 5,1% no ano que vem, o que representa um corte de 1,8 ponto percentual e 1,1
ponto percentual em relação à última previsão. Enquanto em todos os emergentes há redução das previsões de crescimento, os países desenvolvidos vão deixando para trás o pior momento. A perspectiva para a Europa é sair da recessão no que vem, com um número magro de 1%. Mas, para quem há pouco tempo corria o risco de ver sua união monetária se fragmentar, é um bom resultado.
Os americanos são novamente o principal foco das incertezas mundiais, com o impasse político que traz de volta a ameaça de um calote da dívida. Mas, instado a falar do assunto, Blanchard disse que esse é um “grande evento”, que teria inúmeras consequências na economia mundial, mas que ele não contempla a possibilidade de um “acidente” como esse acontecer.
O FMI diz que haverá um momento em que os estímulos monetários vão ser reduzidos e que isso afetará os países emergentes. Sugeriu que eles deixem suas moedas se desvalorizarem. E alertou que não é um bom momento para um país emergente manter desequilíbrios macroeconômicos:
— Se o país tem desequilíbrios macroeconômicos, como déficit fiscal e inflação alta, é melhor fazer alguma coisa. Já deveria fazer de qualquer forma, mas com a pressão dos investidores, é melhor não adiar os ajustes.
O mundo terá em 2013 o menor crescimento em quatro anos. Mas no pior cenário — que é o do calote americano — nem o FMI quer pensar..
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