FOLHA DE SP - 06/10
Apesar da boa notícia da alta da renda em 2012, vale notar as perversidades registradas na Pnad
1. O "BRASIL MELHOROU" nos últimos 19 anos, blá-blá-blá. Mas o Brasil ainda é um país ruim, um dos dez mais desiguais e violentos do mundo, mal-educado e, na sua classe de renda, um dos mais perversos. Portanto, ao menos uma vez por ano, assim como a gente faz promessas no dia 31 de dezembro, vale lembrar algumas dessas perversidades. A recém-publicada Pnad, a grande pesquisa sobre as condições de vida no país, pode servir de Réveillon social.
2. Mais de um terço dos brasileiros que trabalhava em 2012 ganhava menos de um salário mínimo.
3. Se a gente leva em conta a renda por cabeça em cada casa, verifica-se que em metade dos domicílios o rendimento mensal médio era de R$ 359 por pessoa. Coma-se, vista-se, estude-se e durma-se com um dinheiro desses.
3. O rendimento médio no Nordeste ainda é apenas 56,6% do rendimento médio no Sudeste. Melhorou, blá-blá-blá. Em 2004, a proporção era pior, de apenas 50,4%. Nesse ritmo, levaríamos 40 anos para igualar as rendas, o que não vai acontecer nem com boa vontade e inteligência. Mas a projeção ilustra a disparidade perversa.
4. O número médio de anos de estudo das pessoas de mais de dez anos no Nordeste é de 6,4. No Sudeste, 8,2 anos. Não é pouca diferença. É brutal. O número médio brasileiro é 7,5 anos. Na pobre e perversa América Latina, estamos na zona do rebaixamento.
5. A gente pode dizer que as novas gerações não vão tão mal de anos de escola, tudo bem. O pessoal de 24 a 29 anos, por exemplo, tem em média 10,6 anos de estudo no Sudeste: dá quase para completar o colegial. Trata-se da turma que nasceu em tempo de pegar a universalização da frequência à escola, incentivada no primeiro governo FHC, diga-se. Ainda assim, a média nacional do pessoal dessa idade é 9,9 anos; no Nordeste, 8,8. Isto é, a desigualdade regional na educação diminui, mas ainda é bruta.
6. Sim, houve boa notícia na pesquisa. A renda média real dos brasileiros cresceu uns 8% de 2011 para 2012, na medida da Pnad. Mas, na medida do PIB per capita, o crescimento em 2012 foi zero. Em tese, as taxas deveriam ser muito parecidas. Economistas ainda estudam o mistério.
7. Há quem atribua o avanço da renda (Pnad) de 2012 ao aumento do salário mínimo. Poderia até ser. Mas isso ainda não explica a diferença da Pnad em relação aos dados do PIB. Não explica muita coisa. Sim, a renda nominal (inflação mais aumento real) subiu uns 14% pela Pnad, mais ou menos o reajuste do mínimo em 2012. O mínimo também reajusta aposentadorias, outros benefícios sociais e serve de referência para outras faixas salariais, num efeito dominó. Mas o dominó vai parando quanto maior é a renda: salários mais altos têm o mínimo como vaga referência.
8. Isto posto, note-se que em 2012 a renda nominal dos mais ricos (1% dos domicílios no topo) subiu 23% (25% de todo aumento da renda das famílias brasileiras foi para esse 1%). A renda dos 5% mais ricos cresceu 15% (34,5% do aumento da renda total foi para esse 5%). A renda dos 10% mais ricos cresceu quase 15% (esses ficaram com 42,6% do aumento da renda). Difícil acreditar que a indexação do salário mínimo tenha escalado toda a alta e íngreme pirâmide social brasileira.
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