O ESTADO DE S. PAULO - 06/10
A surpresa da aliança entre o governador Eduardo Campos e a ex-ministra Marina Silva é proporcional à sua eficácia política e eleitoral. A escolha do PSB por Marina dobra o potencial de dois candidatos que,isolados,já garantiam a realização de um segundo turno. Juntos, acrescentam à disputa a competitividade que faltava e podem mesmo roubar do PSDB o papel de protagonista da oposição.
Ao se unirem, somam as imagens de perseguidos por um partido que, no governo, trabalhou para impedir a criação da Rede Sustentabilidade e mostrou com o rompimento da aliança para a prefeitura do Recife, origem da dissidência do governador, que não respeita acordos. Sem confiança não se faz política e a confiança que sobrou na aliança de ontem falta historicamente ao PT.
Não era mesmo um desfecho fácil de imaginar, pela condição de candidatos de Campos e Marina,que os tomava concorrentes ao mesmo cargo. Alógica política poderia prever esse pacto num segundo turno eleitoral, jamais antes do primeiro. Só a renúncia de um dos dois à candidatura presidencial poderia alterar essa realidade,o que parece já ter acontecido com a admissão de Marina em apoiar Campos.
De todos os candidatos postos, só Campos e Marina têm aseu favor o trunfo da novidade, a que se junta agora o do desprendimento ao formarem uma dupla em que um abdicará em favor do outro. O elo, explorado ontem nos discursos feitos no evento de filiação,é a ruptura com a "velha política" como pediram os manifestantes nas passeatas de junho, da qual a aliança anunciada é sua materialização.
Enquanto os dois oferecem o espetáculo da união pela causa comum,de uma nova forma de se fazer política, o PSDB volta à estaca zero na definição de seu candidato e reproduz o conflito que, em 201 o, ajudou a derrotar o partido. Em 48 horas, Marina encerrou o debate com seus correligionários sobre o rumo a tomar após o revés na Justiça Eleitoral, e anunciou a opção politicamente mais racional de dar sentido à derrota no tribunal mantendo seu projeto em cena.
A chapa Campos-Marina é duro revés no esforço do ex-presidente Lula em polarizar a eleição novamente com o PSDB e abala o voo de cruzeiro que caracterizava até ontem a campanha da reeleição da presidente Dilma Rousseff. Ao risco de agravamento da economia em 2014 e a provável prisão de condenados do mensalão acrescenta agora às suas preocupações de estrategista a solidez de uma oposição até ontem fragilizada.
Campos ganha a militância que lhe faltava na campanha, importante reforço para nacionalizar sua candidatura. Não por acaso, disfarçava ontem o êxtase que invadiu sua rotina sem maiores avisos.
Mais votos
É consenso entre os políticos que o governo ganhou a briga com as corporações médicas que resistiram à importação de profissionais, o que deve lhe render dividendos eleitorais principalmente no Norte e Nordeste.
Risco
Já na economia caem os ganhos com a redução da energia e com a queda da taxa de juros. A Selic já voltou a subir e a conta de luz está na fila.
Bahia
Na Bahia, o ex-deputado Geddel Vieira Lima (PMDB) pode romper a aliança governista e abrir palanque para Eduardo Campos.
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