FOLHA DE SP - 06/10
CINGAPURA - Desde que o mundo é mundo, as pessoas buscam áreas melhores para viver e os mais fortes tentam subjugar os mais fracos. E, hoje, a migração é um problema imenso e muito delicado.
Os pobres, e os nem tanto, do mundo inteiro mudaram a cara dos EUA, os africanos continuam morrendo a caminho da Europa, os bolivianos se candidatam à semiescravidão no Brasil e os asiáticos de países periféricos fazem fila na porta dos países líderes ou bem-sucedidos.
O dilema tem contornos econômicos, políticos, culturais, humanitários e morais. E divide opiniões acaloradas. O que fazer?
Na minúscula Cingapura, a resposta é dura e pragmática e pode estar gerando pessoas de segunda classe, ou castas. Aos cidadãos, tudo. Aos PhDs estrangeiros, tudo e mais um pouco. E, à mão de obra desqualificada que vem de fora, o trabalho pesado, os dormitórios amontoados e, claro, a lei.
Estes, os que não têm onde cair mortos, assinam contratos de trabalho com prazo fixo e especificando que não têm --e não terão-- direito à cidadania. E, já que falamos em castas, há entre eles levas de toda a vizinhança, desde a superpovoada Índia à miserável Bangladesh.
Os homens trabalham no porto, por exemplo, e as mulheres, como empregadas e babás. Eles são proibidos de casar e ter filhos e os patrões são instados a denunciar quando uma das pobres coitadas que cuidam dos seus bebês engravida. Ela é, então, sumariamente devolvida ao seu país, tal como uma Olga Benário fora do cenário de guerra.
Diante do óbvio espanto, a justificativa é que o tamanho do país --que pode ser atravessado de uma ponta a outra em uma hora e meia de carro-- não permite condescendência. "Se vierem todos, a ilha afunda", diz uma alta funcionária.
Essa é uma das grandes questões em Cingapura, nos EUA, na Europa e nos países líderes de suas regiões. E tem de ser tratada sob o interesse coletivo e a dignidade individual.
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