FOLHA DE SP - 30/10
Mesmo com competição dos estatais, juro menor e aperto de crédito, bancos privados têm grande resultado
A QUANTIDADE DE dinheiro emprestado pelos bancos privados quase não cresceu nos últimos 12 meses, embora a retranca tenha sido menor nos bancos maiores. O aumento real do estoque de crédito na economia ficou na conta dos bancos públicos.
Pelo que se escuta nas conversas de divulgação dos balanços do terceiro trimestre, a carruagem privada não vai andar muito mais rápido daqui até a metade do ano que vem. E o governo diz que vai induzir seus bancos a pisar no freio.
Os bancos privados estão na defensiva desde meados de 2011, quando começou a campanha da presidente contra os juros altos e os "spreads" (diferença entre o custo do dinheiro para bancos e clientes).
Juros e "spreads" médios até que diminuíram, dada a concorrência pesada dos bancos estatais, que baixaram suas taxas e comeram fatias do mercado, vitaminados de resto por dinheiro do governo.
Os bancos privados não recuaram apenas devido à pressão da concorrência estatal. A inadimplência e o nível de endividamento cresceram e ficaram altos nos últimos três anos. Convém notar que a inadimplência aumentou mesmo com a renda das famílias em alta e com a menor taxa de desemprego em décadas. Era uma atitude razoável imaginar que, em caso de desemprego crescente, o nível de calote pudesse ficar alarmante.
O mar, de fato, não estava para o peixe do crédito, ao menos para os bancos privados, que em tese não podem contar com dinheiro do governo caso façam besteira com empréstimos e não vejam a cor do dinheiro de volta. Ou melhor, em caso de catástrofes financeiras, o governo, nós, acaba por pagar a conta, mas bancos não operam no crédito do dia a dia com a perspectiva de emprestar à matroca, de qualquer jeito, e levar calotes.
Dada a pressão dilmiana, a situação no mercado bancário ficou parecida com a de um controle de preços indireto (a concorrência dos juros mais baixos da banca estatal). Diante disso, a reação dos bancos privados foi similar à de empresas submetidas a controle de preços.
Isto é: 1) Reduziram a oferta: caiu o ritmo de concessão de empréstimos; 2) Enxugaram custos: os administrativos e os relativos ao crédito, ao risco. Os bancos ficaram mais seletivos nos empréstimos e reduziram perdas com calotes; 3) Ganharam mais com serviços.
O espetacular lucro do Itaú Unibanco, por exemplo, não veio do aumento da margem financeira.
Os maiores bancos brasileiros, pois, concentraram-se em financiamento imobiliário, empréstimos consignados e crédito para empresas grandes, pela ordem. Reduziram violentamente o financiamento de veículos, por exemplo.
De um modo um tanto sarcástico, a gente pode dizer que um dos efeitos importantes da campanha presidencial contra juros e "spreads" bancários foi um aumento de eficiência nos bancos privados, pelo menos nos maiores.
A participação relativa a bancos públicos no bolo do crédito praticamente dobrou desde 2007. Mais da metade do estoque de crédito, do total do dinheiro atualmente emprestado, é da conta dos bancos públicos, vitaminados pelo governo, em especial o de Dilma. Mas esse esquema deu o que tinha que dar, como tantos outros do governo Dilma.
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