FOLHA DE SP - 30/10
São bem-vindos os sinais de que governo vai aliviar Petrobras e alinhar preços de gasolina e diesel no país aos do mercado internacional
Antes tarde do que nunca. Após anos de deterioração operacional e financeira que custaram dezenas de bilhões de reais à Petrobras, o governo enfim dá sinais de que, talvez, se afastará do populismo tarifário e permitirá maior alinhamento dos preços de combustíveis ao mercado internacional.
Ao explicar o desempenho da estatal no terceiro trimestre, o diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, afirmou que um novo modelo de ajuste de preços será analisado pelo conselho de administração até 22 de novembro.
Não foram divulgados detalhes. Consta que, pela nova metodologia, haveria correção automática no preço interno (fixado pela Petrobras em reais) em caso de divergência significativa --para mais ou para menos-- em relação ao internacional (que flutua livremente, em dólar). Calcula-se que a defasagem esteja perto de 5% para a gasolina e 15% para o diesel.
A mudança permitiria reduzir o prejuízo causado pela importação para suprir o consumo interno --a perda estimada em 2013 pode se aproximar de R$ 10 bilhões.
Haveria, além disso, maior estabilidade no fluxo de caixa para a empresa realizar seu ambicioso plano de investimentos, o que inclui o pré-sal. De resto, a medida traria alívio ao setor de etanol, cuja rentabilidade foi prejudicada pelos subsídios à gasolina.
Para a Petrobras, a combinação entre maus resultados na produção, controle artificial de preços e investimentos maciços no pré-sal tem sido venenosa. O lucro do terceiro trimestre (R$ 3,4 bilhões) ficou 45% abaixo do obtido no mesmo período de 2012; a dívida, crescente, chegou a R$ 250,9 bilhões, pouco acima do limite considerado prudente pela empresa, de 35% do patrimônio líquido.
Com uma das maiores dívidas empresariais do mundo, a nota da Petrobras está ameaçada de rebaixamento pelas agências de classificação de risco. Daí a direção buscar não só a revisão nos combustíveis mas também o saneamento de problemas operacionais herdados da politizada gestão anterior.
Longe de significar um "aggiornamento" ideológico, porém, a possível reorientação decorre da aritmética e de objetivos a médio e longo prazo. No atual ritmo de crescimento da dívida, a Petrobras teria imensa dificuldade para cumprir seu planejamento estratégico.
A alternativa, uma nova capitalização como a de 2010, parece inviável, tendo em vista a perda de valor da empresa e a justificada má vontade dos investidores.
Resta saber se os sinais auspiciosos serão confirmados. Com eleição presidencial no horizonte próximo, não será surpresa se a montanha, afinal, parir um rato.
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