FOLHA DE SP - 16/10
É melhor um tripé na mão do que inflação e dívida voando, mas economia vai muito além disso
MARINA SILVA FAZ juras de amor ao tripé. Dilma Rousseff diz que jamais o abandonou. Aécio Neves e Eduardo Campos também querem um relacionamento sério com o tripé, mas por ora as declarações deles ainda não reverberam muito nesta pré-temporada eleitoral. O que é que o tripé tem?
O tripé é o arroz com feijão da política econômica contemporânea, servido no Brasil desde 1999.
Trata-se da política básica de fazer com que a dívida do governo não cresça mais do que o tamanho da economia, de evitar que a inflação divirja muito da meta e de deixar a taxa de câmbio (o "valor do dólar") variar mais ou menos nas ondas do mercado.
Por que o tripé se tornou o namoradinho da pré-temporada eleitoral? Porque os pré-candidatos da oposição, entre outros, acusam o governo Lula 2 e, em particular, o de Dilma de terem traído o tripé, o que teria sido um fator importante dos desarranjos econômicos recentes.
Marina tem sido enfática a respeito. Acusa Dilma de retrocesso por ter, entre outros motivos, abandonado o tripé, que teria sustentado a estabilidade econômica e os avanços sociais deste século.
É mais ou menos verdade. O tripé é uma dieta de manutenção. Não engorda ou emagrece, mas não ajuda a ganhar músculos, fôlego nem define um peso ideal.
Uma das pernas do tripé é o controle da dívida pública. O déficit do governo tem de ser tal que a dívida diminua, fique estável ou, pelo menos, não cresça a ponto de parecer impagável. Outra perna é a meta de inflação, que deve ser baixa e estável. O câmbio flutuante é a terceira.
É fácil perceber que o tripé pode ter pernas mais ou menos compridas. Quer dizer, não define de antemão os tamanhos do déficit público e da inflação; de resto, nem toda flutuação da taxa de câmbio pode ser alegremente tolerada.
A promessa de colocar o tripé de pé de novo não quer dizer, pois, grande coisa. É melhor um tripé na mão do que inflação e dívida voando, mas a mera defesa desse padrão de política econômica nem de longe delineia um programa de governo interessante.
O Brasil vai mudar de padrão econômico estabilizando sua dívida ou precisamos de algo mais radical em matéria fiscal? Em vez de apenas reduzir seu déficit, não seria necessário zerá-lo por vários anos, a fim de aumentar a poupança nacional, forçar a redução dos juros campeões mundiais e, enfim, alterar o padrão de financiamento do governo (da sua dívida), ainda um escândalo?
Zerar o déficit e baixar rapidamente a dívida seria novidade, mas resultaria em conflito. Lula 2 ou Dilma poderiam ter chegado perto disso se não tivessem aumentado os benefícios sociais, se não tivessem reduzido impostos de empresas e sobre bens de consumo, se não tivessem feito dívida cara para emprestar dinheiro a juro zero para empresas grandes.
Marina, Aécio e Campos vão mexer nesses vespeiros? Deixariam o câmbio flutuar livremente até o dólar cair a menos de R$ 1,50, como em 2011? Cumprir a meta de inflação de 4,5% agora é básico.
Mas vão ter um programa de redução da meta?
São apenas perguntas básicas. Enfim, o tripé apenas nem de longe definiu as idas e vindas da economia brasileira nos últimos 13 anos.
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