O GLOBO - 16/10
Ao contrário das eleições de 2006 e 2010, desta vez o candidato do PT à reeleição deverá ter uma retaguarda desguarnecida na conjuntura econômica
Líder nas pesquisas, Lula, candidato do PT, enfrentou o tucano José Serra em 2002 com a vantagem de ser o novo, a esperança, na disputa com o representante de um presidente desgastado, Fernando Henrique, já no segundo mandato. Na reeleição, na disputa com o tucano Geraldo Alckmin, Lula já carregava o peso do escândalo do mensalão, mas havia conseguido conter o choque inflacionário que a expectativa da sua vitória em 2002 provocara. E o Bolsa Família já garantia votos ao Norte.
Em nenhuma das campanhas a questão econômica foi tema de acesos debates. Lula conseguiu eleger a ministra Dilma Rousseff pela força de sua popularidade e num ano, 2010, em que o PIB cresceu 7,5%. O sucesso de Marina Silva (PV) levou a eleição para o segundo turno, em que Dilma venceu Serra. A economia também não foi tema de maiores debates.
Mas 2014 deverá ser diferente, pois a conjuntura econômica não é mais tão amistosa para o governo. Na sexta-feira, Marina Silva, aliada do mais novo dissidente da aliança petista, Eduardo Campos, desferiu a primeira estocada ao defender perante empresários, em São Paulo, o “tripé” superávits primários, dólar flutuante e metas de inflação. Dilma reagiu e, num gesto de arrogância, aconselhou adversários a estudar. Sinal de que o golpe encaixou.
Dilma continua favorita e não há no horizonte maior ameaça objetiva a esta condição, mas, em nenhuma das eleições anteriores, o candidato do PT teve na retaguarda um quadro econômico tão problemático.
A desconfiança na profissão de fé do Planalto no controle das conta públicas é bem alicerçada e recebe agora o reforço do demolidor ataque à Lei de Responsabilidade Fiscal, por meio da renegociação das dívidas de estados e municípios, embutida na troca de índices de correção, de que a prefeitura petista de São Paulo é o ente da Federação mais beneficiado.
A inflação é outra retaguarda desguarnecida. A presidente Dilma garante que está “dentro da meta”. Merece o adendo: mas muito próxima do limite superior de 6,5% — a ponto de se suspeitar que a meta real do Planalto são insustentáveis 6% — e distante dos 4,5% do centro do alvo, que deveria ser perseguido. Há, ainda, o agravante da inflação reprimida pelo virtual congelamento de tarifas chamadas de públicas: combustíveis, transportes, pedágios etc. Por isso, enquanto o índice dos preços livres roda em quase 9%, o dos administrados estaciona em pouco mais de 1%. Está à espera do próximo presidente um choque tarifário. Com um detalhe: a inflação em 6% dá margem mínima para a economia absorver este choque. Fecha o cenário o sentimento de desconfiança do empresariado, uma das causas dos baixos investimentos.
Chama a atenção que Marina tenha decidido defender o “tripé”, tema de que alas petistas têm alergia. Marca uma mudança de postura em relação à candidata de 2010, tímida nas críticas aos antigos companheiros.
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