quarta-feira, outubro 16, 2013

Mudando de assunto - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 16/10

Infiltração de vândalos transformou os protestos em rotina de violência, deixando de ser novidade



Vamos mudar de assunto? Como a infiltração de vândalos transformou os protestos em rotina de violência, deixando de ser novidade, e como a polêmica sobre biografia já deu o que tinha que dar — agora é aguardar a decisão da Justiça — vou falar de outros temas, que chamaram atenção nestes últimos dias:

1. São estarrecedoras as revelações do Ministério Público paulista sobre a maior facção criminosa do país, o PCC, que domina os presídios, conta com 11 mil “soldados” e tem ramificações em 22 estados. Por meio de escutas telefônicas, o MP descobriu ligações dos bandidos com as polícias Civil e Militar e, entre os planos, a tentativa de infiltrar elementos na Assembleia Legislativa e até no STF. Pior, planejava a execução do governador Geraldo Alckmin, além da fuga em massa de presos. Agora, ameaçam participar das manifestações populares, tumultuar as eleições e promover a “Copa do horror”. Diante desse quadro, surge uma dúvida: Ou no Rio os “comandos” da chamada “capital do crime organizado” não passam de amadores, se comparados com os profissionais do PCC, que só com o tráfico fatura R$ 100 milhões por ano, ou o que falta aqui é uma boa investigação para desvendar a fundo a extensão de organizações como as milícias.

2. É interessante o caso da bióloga brasileira Ana Paula, que está presa em Moscou há quase um mês sob a ridícula acusação de “pirataria”. Ela faz parte do grupo de 30 ativistas do Greenpeace que protestavam pacificamente contra a exploração de petróleo no Ártico. Há mais de 40 anos, essa ONG é um exemplo de militância social consequente. Seus membros se arriscam em ações diretas arrojadas em defesa do meio ambiente, boicotam empresas, bloqueiam obras, mas não apelam para o quebra-quebra. Nem por isso deixam de ser eficazes. Já interromperam testes nucleares no Alasca, lutam contra a caça às baleias, não dão sossego aos exploradores de peles de animais. Não por acaso, mais de um milhão de pessoas já enviaram mensagens para as embaixadas russas em todo o mundo exigindo: “Libertem os 30 do Ártico.”

3. Por fim, o mais importante para mim. Trata-se do aniversário este mês dos meus netos Alice, 4 anos, e Eric, 1. Eles se adoram e, como Freud explica, às vezes se odeiam. No caso, ela. Diante da crítica às suas frequentes crises de mau humor, justificou-se: “Eu só fico chatonilda quando minha mãe dá mais atenção ao Eric.” Por via das dúvidas, depois de ouvir histórias pouco edificantes do agressivo ciúme primogênito, sugeri, com dramático exagero, que os pais retirassem as facas do alcance das mãos dela.

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