FOLHA DE SP - 13/09
Temporada de indicadores positivos cria ilusões e mais conversa politiqueira sobre economia do Brasil
A MÉDIA DOS economistas chutou outra bola muito fora do gol nas suas previsões sobre o crescimento das vendas do comércio de varejo em julho. Na média, o chute informado era de aumento de 0,2% em relação a junho. Mas o varejo cresceu 1,9%.
Chutaram no gol, acertaram na bandeirinha. Acontece. A bola passou longe do gol também na previsão do PIB do segundo trimestre, anunciado há duas semanas.
O número de pessoas empregadas nas grandes cidades brasileiras aumentou em julho bem mais que o previsto pela maioria dos economistas.
No caso de outro indicador importante, a inflação de julho, não houve erro. Mas a notícia foi aparentemente boa, inflação zero, na prática, o que levou a presidente a falar de "inflação absolutamente sob controle" e variantes disso.
Também a contrapelo do pessimismo deve vir o resultado do primeiro da série de leilões de privatização (concessões) de estradas, na semana que vem. Será pelo menos um bom início para uma rara iniciativa econômica séria deste governo.
Tudo indica que "o pior já passou", como disse a presidente em sua propaganda eleitoral em rede nacional de TV e rádio.
Só que não.
Na verdade, essa conversa hiperconjuntural e politiqueira, seja no governo, seja na oposição, é pobrezinha.
O pior já passou? Do que se trata? O que é agora "melhor"? Vamos crescer uns 2,5% neste ano, mais que a tristeza do 0,9% de 2012? Sim, mas isso a gente já sabia e, de qualquer modo, não é lá muito relevante.
Vamos voltar ao ritmo dos anos Lula, de 4% ao ano de crescimento? Muito improvável.
O aumento dos salários (renda real) tem sido cada vez menor, menor mesmo que nos anos fracos a partir de 2010. Com o desemprego baixo, difícil imaginar que os salários possam crescer mais sem dar impulso adicional à inflação, afora outras limitações.
A inflação roda na parte de cima da linha em torno da qual tem flutuado faz uma década, em si mesma alta, de uns 5,5%. Ameaça escapulir para mais de 6%. Por isso, os juros voltaram a subir.
Juros em alta entre outras coisas reduzem o crescimento das vendas do varejo, bidu.
O crédito bancário vai crescer 15% neste ano, segundo estimativa dos próprios economistas de banco. Embora empurrado pelo crédito da banca estatal, não é um resultado fraco. Mas o andar da carruagem é bem mais lento dos anos de crescimento mais forte dos anos Lula, quando ainda havia aumento salarial maior e fôlego maior para endividamento. Para o ano que vem, o crescimento do crédito vai ficar na mesma.
Ainda que o governo não vá controlar suas contas como devia (já disse que não vai, no projeto de Orçamento para 2014), o crescimento do gasto público será menor.
Em suma, mesmo os indicadores da conjuntura mais imediata indicam que é muito improvável crescimento significativamente maior em 2014 (por ora, economistas mais certeiros chutam que vamos crescer um tico menos no ano que vem).
Mas, repita-se, esse nem é o nosso problema. A pergunta que temos de fazer é: como crescer bem (mais de 4%), sem efeitos colaterais graves, pelos próximos dez anos, resolvendo logo nossos problemas materiais e aproveitando a ainda favorável situação demográfica do país?
O resto é conversa. Conversinha.
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