FOLHA DE SP - 13/09
RIO DE JANEIRO - No romance "O Príncipe e o Mendigo" (1882), Mark Twain promove uma troca de papéis na Inglaterra do século 16: o pequeno Edward, príncipe de Gales, e um menino de rua, Tom, conhecem-se às portas do Palácio de Westminster. Ao descobrir que nasceram no mesmo dia e são parecidos, decidem fazer de conta por alguns momentos. Um veste a roupa do outro; o príncipe sai à calçada e o mendigo adentra os portões. Mas algo acontece na rua, e os guardas, para proteger o príncipe, levam-no dali, sem saber que ele é, na verdade, Tom. O que se passa pelos dois anos seguintes você pode imaginar.
Em todas as fábulas em que um nobre se mistura com a plebe, o problema do autor é tirar o bacana do palácio e mantê-lo fora por dias ou horas. Em "A Princesa e o Plebeu" (1953), filme de William Wyler, Audrey Hepburn, princesa de um reininho de opereta, sai sozinha por Roma à noite. Perde-se na cidade e se envolve com um repórter americano, vivido por Gregory Peck.
Em meu romance "Era no Tempo do Rei" (2007), que se passa no Rio de 1810, o jovem príncipe d. Pedro arma uma confusão e tem de fugir correndo do Paço Imperial. No Arco do Telles, mete-se em outra encrenca, da qual é salvo por um menino de rua, Leonardo, o mesmo de "Memórias de um Sargento de Milícias" (1854), de Manuel Antonio de Almeida. Em todos esses casos, a ideia é confrontar personagens de origens sociais distintas e reduzi-los ao mesmo patamar humano.
Nesta semana, um homem de 53 anos que passeava pelos jardins do Palácio de Buckingham, em Londres, foi abotoado por agentes armados, jogado ao chão e imobilizado. Era o príncipe Andrew, filho da rainha Elizabeth e irmão de Charles. Confundiram-no com um penetra, coitado.
Dilma também gosta de dar suas fugidinhas sem avisar. O perigo é se for barrada ao voltar para o palácio.
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