O GLOBO - 08/08
A queda da inflação em julho para meros 0,03% é a melhor notícia este ano nesse campo. Julho é sempre o mês de inflação mais baixa na área de alimentos, mas a última deflação desse item foi em 2011. Nos últimos sete anos, o item alimentos e bebidas acumula alta de 79%. Há oscilação sazonal, mas o preço da comida tem aumentado sempre e pesado no orçamento doméstico.
No gráfico abaixo confira o que aconteceu com o item alimentos e bebidas dentro do IPCA desde julho de 2006. Ele foi preparado pela consultoria Tendências e mostra que, mesmo com pequenas quedas pontuais, os preços não têm voltado ao patamar anterior. No segundo semestre, a inflação cairá, mas não muito. Em 2012, nessa época, foi pior por causa da seca americana, que produziu índices muito altos. Ela foi devastadora e impactou fortemente as taxas do segundo semestre. Este ano, não há problema dessa dimensão, então, o índice será favorecido sempre que sair um número do ano passado e entrar o de 2013. É preciso, por parte do governo, uma política para mitigar o efeito das oscilações de preços de alimentos e manter mais a estabilidade.
O baixo índice de julho é também, em parte, resultado da revogação dos aumentos de transporte provocada pelas manifestações de junho. Essa revogação tem que ser seguida por análises da composição das tarifas para encontrar as gorduras que, certamente, existem na formação desses preços e mudança de fórmulas de cálculo. Deixado como está é apenas inflação reprimida que aparecerá de alguma forma: ou em reajustes maiores adiante ou em mais subsídios às empresas de ônibus.
O dólar subindo eleva o preço que a Petrobras paga pela gasolina importada. E não reajustar os combustíveis, quando as importações estão aumentando, não é sustentável. Antes, quando havia a Cide, imposto sobre combustíveis, a arrecadação criava um colchão que permitia absorver os choques de preços de combustíveis. Agora, tudo vira imediatamente prejuízo para a Petrobras ou custo para o Tesouro.
Como parte fundamental da estabilidade de preços é a solidez fiscal, a queda da inflação fica com uma base instável. Em parte pelos truques contábeis de polichinelo: eles escondem o que todos estão vendo; em parte porque a arrecadação caiu pelo nível de atividade baixo e pelo efeito das desonerações.
O dólar em alta será uma fonte de pressão sobre os preços, ainda que menor do que no passado. A menos que a moeda continue subindo, não se espera um repasse muito grande, mas apenas problemas localizados como o da Petrobras. Se o dólar continuar subindo, será mais difícil evitar o repasse do câmbio para os preços. A inflação não é problema resolvido, mas de qualquer maneira, é bom comemorar um mês de taxa zero. No INPC, que mede a inflação dos mais pobres, ficou negativa em -0,13%, um resultado que reanima os consumidores.
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