FOLHA DE SP - 08/08
RIO DE JANEIRO - Sob os pés de muitos ou nas mãos de alguns, as pedras portuguesas são parte da história da cidade. Na gestão do prefeito que mudou o Rio, Pereira Passos (1902-1906), os mosaicos alvinegros tomaram o cenário urbano carioca.
Admiradas pela beleza com que compõem obras de arte aos pés dos passantes, as pedras portuguesas são odiadas por quem tropeça em alguma delas mal colocada ou enfia o salto do sapato em um dos recorrentes buracos entre elas.
Agora, 1,2 km² de calçadas em pedra portuguesa voltaram a ser polêmica, com a divulgação da foto de Beatriz Segall, 87, com hematoma no olho após tropeçar numa calçada do Baixo Gávea. O prefeito ligou para a atriz, os proprietários foram notificados, a calçada arrumada. Os buracos estão, na verdade, em todo tipo de calçada malconservada por todos.
Ou nas manifestações de junho, quando pedras soltas eram reunidas e guardadas para servir de munição.
Além da beleza, esses mosaicos --se bem-feitos-- adequam-se ao terreno de forma firme, são permeáveis à água, podem ser retirados e recolocados e têm alta durabilidade. É preciso técnica para colocar e conservar, ensinadas por mestres calceteiros vindos de Lisboa.
O desenho da calçada de Copacabana está pelo mundo como logotipo extraoficial do Rio. Apesar de não ser propriamente original. Foi inspirado no piso do largo do Rossio, em Lisboa, e foi instalado antes em uma praça em Manaus, como conta o arquiteto José W. Tabacow. Aqui, as ondas do chão, inicialmente perpendiculares à praia, passaram nos anos 1930 a se alinhar paralelas à areia, em continuidade às ondas do mar. Que os arqueólogos do futuro tenham como encontrar os belos mosaicos de pedra de Burle Marx.
Pobres pedras portuguesas, tornadas vilãs de maneira tão injusta. Como no poema de João Cabral, "para aprender da pedra, frequentá-la".
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