O GLOBO - 25/08
Em menos de um mês, no dia 22 de setembro, a Europa terá a eleição mais importante do ano. Os alemães votarão para dar, ou não, um terceiro mandato à chanceler Angela Merkel — e tudo indica que darão. É importante não só porque a líder conservadora da União Democrata-Cristã (CDU, na sigla em alemão) pilota a chamada locomotiva europeia, mas também porque passam por ela, em última análise, as linhas gerais das medidas destinadas a resgatar a zona do euro da maior crise desde a sua criação.
Merkel não tem o papel histórico de Adenauer, o carisma de Willy Brandt ou a popularidade de seu mentor político, Helmut Kohl. Sua oratória não entusiasma, mas ela inspira confiança e representa estabilidade e segurança. Conseguiu, no limite, equilibrar as medidas para evitar o colapso do euro com as demandas do contribuinte alemão, que a crucificaria se fosse forçado a gastar muito para pagar pela irresponsabilidade de Grécia, Portugal e Espanha.
A coalizão de centro-direita de Merkel (CDU/CSU com apoio dos liberais do FDP) mantém, nas pesquisas, a dianteira sobre a oposição de centro-esquerda (SPD/Verdes), mas até agora a campanha não empolgou. As mensagens dos dois maiores partidos (CDU e SPD) se tornaram parecidas a ponto de ser difícil diferenciá-las.
Também, as questões de fundo são complicadas para o eleitor médio, cansado das intermináveis discussões em torno da crise europeia, das tecnicalidades do debate sobre energia nuclear e fontes alternativas ou dos detalhes da espionagem internacional pela Agência de Segurança Nacional (NSA), dos EUA.
A economia, grande eleitora, decidiu ajudar Merkel. Os últimos indicadores mostram que a zona do euro voltou a crescer no segundo trimestre, depois de 18 meses de contração. O destaque é a própria Alemanha, com um crescimento anual do PIB de 0,7% no mesmo período. A explicação, entre outras, é que o país fez o dever de casa no governo anterior ao de Merkel, de Gerhard Schroeder (SPD), que promoveu uma reforma no sistema de bem-estar social que baixou o “custo Alemanha”. Nenhum dos parceiros alemães na zona do euro repetiu a proeza.
O início de recuperação da zona do euro é música para a chanceler alemã, que foi muito criticada por ser irredutivelmente a favor de duríssimas medidas de austeridade para conter a derrocada dos países periféricos (Grécia, Portugal) e nem tão periféricos (Espanha).
A campanha alemã é criticada por não debater questões importantes, como o envelhecimento da população ou o futuro da zona do euro. Merkel prefere acreditar que os eleitores não vão mexer em time que está ganhando. A oposição, com Peer Steinbrueck, não parece ter fôlego para mudar isso. Mas a resposta final só as urnas do dia 25 poderão dar.
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