VALOR ECONÔMICO - 02/08
As relações da presidente Dilma Rousseff com a enorme e disforme base governista nunca foram tranquilas. Enquanto ostentava popularidade superior até mesmo à de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, e caminhava para uma folgada reeleição, os descontentamentos dos partidos aliados foram acomodados, ainda que com ranger de dentes e traições veladas. O Congresso voltou ao trabalho com a presidente em outra situação. Sua popularidade caiu à metade, sua reeleição tornou-se um desafio e o que era inimaginável até junho virou realidade depois: a candidata Dilma é vulnerável. Os trabalhos legislativos refletirão a mudança. A capacidade do governo de aprovar projetos, que já definhava, se tornará ainda menos segura, mais trabalhosa, mais sujeita a derrotas fragorosas - e mais cara. Não é uma perspectiva agradável para o Planalto nem para o país, quando ainda falta mais de um ano até as eleições.
A irrupção dos movimentos nas ruas desmanchou laços políticos que pareciam sólidos. Os primeiros a desatarem foram justamente os eleitorais. O PMDB, que tinha assegurada sua continuidade na vice-presidência em 2015, vive com mais intensidade o dilema dos partidos menores da coalizão-ônibus que sustenta o governo - ficar ou abandonar um governo que pode terminar impopular? Em uma das reuniões, políticos peemedebistas chegaram a estabelecer uma "banda de popularidade" que a presidente deveria atingir até determinada data para continuar merecendo o apoio da legenda - de 30% a 35%. É ridículo, mas o problema é real.
Abriu-se o espaço político para o imprevisível. A pré-candidata em alta nas pesquisas para suceder Dilma, Marina Silva, não está no Congresso nem tem partido constituído. O bem avaliado governador de Pernambuco, Eduardo Campos, passou a ter peso maior nas duas canoas em que têm os pés. Como governista, seu apoio nestas horas difíceis tornou-se mais precioso, e como oposição, ficou mais tentadora, quase irresistível, sua candidatura presidencial. A oposição tucana está dividida e desnorteada. As pesquisas mostraram avanços no apoio a Aécio Neves, discretos a ponto de não denotarem entusiasmo. E José Serra ainda disputa a indicação do PSDB.
Aturdido, o PT ainda não mostrou reação. A bandeira que começava a ser desfraldada pelos descontentes com Dilma, a do "Volta Lula", terá de voltar para o armário. Ela é um atestado dos petistas de que comungam da avaliação declinante da presidente, que chegou ao Planalto pelas mãos de Lula. Já perdas de popularidade adicionais ao nível incômodo em que se encontra Dilma trará mais problemas para Lula voltar. Patrono da presidente, seus extraordinários carisma e poder de comunicação podem ser insuficientes para se eleger novamente defendendo um governo, pelo qual é responsável, que está sendo alvejado por todos os lados e que não possui grandes trunfos a mostrar.
O governo tenta se mover para reagir ao efeito desagregador de uma economia que cresce, mas não muito, e à erosão de apoio nas pesquisas. O Planalto resolveu falar a linguagem direta que os parlamentares entendem - liberando recursos para atender emendas. Serão R$ 6 bilhões até o fim do ano. O preço antes do recesso era um, agora deve ser outro, mais alto. Líderes partidários consideram a liberação de emendas insuficiente, ou como diz Eduardo Cunha, líder do PMDB, ela é "um detalhe". Como o diabo sempre habita nos detalhes, o governo teme o pior e também busca simpatias nos Estados e municípios, para os quais alocará R$ 35,8 bilhões para projetos de mobilidade urbana e estendeu a capacidade de aumentar dívidas.
Essa reação pode dar algum fruto e outras dependem até de mudança de temperamento da presidente. A coordenação política é alvo de ataques até mesmo do PT, mas o fato é que sem autonomia os coordenadores são apenas mensageiros - como se sabe, os primeiros a serem alvejados em caso de más novas. Trocas na coordenação e no ministério poderiam apaziguar alguns ânimos e parecem, até agora, descartadas. Tanto na área política como na econômica o governo está acuado e não se vislumbram novas ações que mudem o jogo a seu favor. Se tudo continuar como está, o Planalto passará um ano e meio sendo vítima de uma cruel ironia: mesmo tendo uma base de apoio esmagadora, conseguirá aprovar cada vez menos projetos que podem ser do interesse do país. Poderá ser um bloqueio e tanto.
A irrupção dos movimentos nas ruas desmanchou laços políticos que pareciam sólidos. Os primeiros a desatarem foram justamente os eleitorais. O PMDB, que tinha assegurada sua continuidade na vice-presidência em 2015, vive com mais intensidade o dilema dos partidos menores da coalizão-ônibus que sustenta o governo - ficar ou abandonar um governo que pode terminar impopular? Em uma das reuniões, políticos peemedebistas chegaram a estabelecer uma "banda de popularidade" que a presidente deveria atingir até determinada data para continuar merecendo o apoio da legenda - de 30% a 35%. É ridículo, mas o problema é real.
Abriu-se o espaço político para o imprevisível. A pré-candidata em alta nas pesquisas para suceder Dilma, Marina Silva, não está no Congresso nem tem partido constituído. O bem avaliado governador de Pernambuco, Eduardo Campos, passou a ter peso maior nas duas canoas em que têm os pés. Como governista, seu apoio nestas horas difíceis tornou-se mais precioso, e como oposição, ficou mais tentadora, quase irresistível, sua candidatura presidencial. A oposição tucana está dividida e desnorteada. As pesquisas mostraram avanços no apoio a Aécio Neves, discretos a ponto de não denotarem entusiasmo. E José Serra ainda disputa a indicação do PSDB.
Aturdido, o PT ainda não mostrou reação. A bandeira que começava a ser desfraldada pelos descontentes com Dilma, a do "Volta Lula", terá de voltar para o armário. Ela é um atestado dos petistas de que comungam da avaliação declinante da presidente, que chegou ao Planalto pelas mãos de Lula. Já perdas de popularidade adicionais ao nível incômodo em que se encontra Dilma trará mais problemas para Lula voltar. Patrono da presidente, seus extraordinários carisma e poder de comunicação podem ser insuficientes para se eleger novamente defendendo um governo, pelo qual é responsável, que está sendo alvejado por todos os lados e que não possui grandes trunfos a mostrar.
O governo tenta se mover para reagir ao efeito desagregador de uma economia que cresce, mas não muito, e à erosão de apoio nas pesquisas. O Planalto resolveu falar a linguagem direta que os parlamentares entendem - liberando recursos para atender emendas. Serão R$ 6 bilhões até o fim do ano. O preço antes do recesso era um, agora deve ser outro, mais alto. Líderes partidários consideram a liberação de emendas insuficiente, ou como diz Eduardo Cunha, líder do PMDB, ela é "um detalhe". Como o diabo sempre habita nos detalhes, o governo teme o pior e também busca simpatias nos Estados e municípios, para os quais alocará R$ 35,8 bilhões para projetos de mobilidade urbana e estendeu a capacidade de aumentar dívidas.
Essa reação pode dar algum fruto e outras dependem até de mudança de temperamento da presidente. A coordenação política é alvo de ataques até mesmo do PT, mas o fato é que sem autonomia os coordenadores são apenas mensageiros - como se sabe, os primeiros a serem alvejados em caso de más novas. Trocas na coordenação e no ministério poderiam apaziguar alguns ânimos e parecem, até agora, descartadas. Tanto na área política como na econômica o governo está acuado e não se vislumbram novas ações que mudem o jogo a seu favor. Se tudo continuar como está, o Planalto passará um ano e meio sendo vítima de uma cruel ironia: mesmo tendo uma base de apoio esmagadora, conseguirá aprovar cada vez menos projetos que podem ser do interesse do país. Poderá ser um bloqueio e tanto.
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