CORREIO BRAZILIENSE - 04/07
As manifestações nas ruas são o apelo mais ruidoso por vigorosa ação do Estado. Refletem o somatório de desacertos verificados em vários segmentos da vida social, política e econômica do país. E as reações até aqui, apesar de uma correção pontual ou outra, em especial no Congresso Nacional, estão longe de atacar o conjunto de problemas que começam a armar verdadeiro tsunami em direção ao centro do poder. Se alguém duvida, ou ainda não identifica o epicentro, leia o Correio de ontem.
Lá estão preocupantes notícias em relação ao declínio da produção industrial, ao crescimento da inflação, ao aumento da taxa de desemprego, à queda nas bolsas de valores, à desvalorização do real e à elevação da taxa de desânimo dos brasileiros. Não é pouco. Nem é sem razão que a popularidade da presidente Dilma Rousseff despenca. Talvez falte ao governo quem tenha coragem e autoridade para acordar a burocracia com retumbante brado: "É a economia, estúpido".
A frase, criada em 1992 pelo marqueteiro da campanha de Bill Clinton durante disputa com George Bush nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, ecoa desde então como sinal extremo de alerta aos governantes. Mas é impressionante como o termômetro arrisca quebrar-se, enquanto a febre continua a subir. Remédios clássicos, como ajuste fiscal e corte de gastos, são relegados. Ao contrário, a pauta das reivindicações populares impõe mais dispêndios, com subsídios às tarifas do transporte público.
Ao mesmo tempo, o número de ministérios bate recorde, com 39 pastas espalhadas por Brasília, pois já não há espaço físico para abrigar tantos aliados na monumental Esplanada idealizada por Lucio Costa e Oscar Niemeyer. O gigantismo seria mal menor, fosse o titã eficiente. Como não é o caso, a conjuntura se agrava, com o comprometimento da capacidade do país de atrair investimentos diretos no exterior. Para piorar, a máquina é pressionada a pagar mais aos servidores. Ações se acumulam na Justiça e, só para saldar este ano, a Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional contabiliza mais de 73 mil sentenças, a custo superior a R$ 17 bilhões.
Não bastasse, oito centrais sindicais preparam paralisações para a próxima semana, com nova e cara conta a apresentar: fim do fator previdenciário, jornada de trabalho semanal de 40 horas e política salarial para aposentados. Mais: caminhoneiros bloqueiam rodovias em protesto contra o preço alto das tarifas de pedágio e do óleo diesel, e portuários anunciam greve, para exigir o cumprimento da Convenção nº 137 da Organização Internacional do Trabalho, que dá prioridade na contratação aos trabalhadores registrados, colocando mais um entrave às importações e exportações.
Até há pouco, o incentivo ao consumo interno ajudou a manter as aparências no pior da crise internacional deflagrada em 2008. Mas também endividou as famílias, cujo sufoco tende a aumentar. Afinal, com a economia desaquecida, os preços em alta e os pilares da estabilidade oscilando, conquistas sociais relevantes podem evaporar. Portanto, sem uma atitude radical e urgente do governo, equivalente a um choque de gestão, estaremos condenados a inexorável retrocesso.
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