O GLOBO - 23/07
Pelo menos no seu primeiro pronunciamento em solo brasileiro, o Papa Francisco não deu margem à politização de sua mensagem, como esperavam o governo brasileiro e os católicos ligados à Teologia da Libertação. Ao contrário da presidente Dilma, que aproveitou a ocasião para fazer um discurso de cunho eminentemente político, com autoelogios aos 10 anos de governo do PT, o Papa ateve-se à exaltação da força dos jovens, tema específico da Jornada Mundial da Juventude: "Cristo bota fé nos jovens e confia-lhes o futuro e sua própria casa. E também os jovens botam fé em Cristo", garantiu o Papa na cerimônia de boas-vindas no Palácio Guanabara.
Enquanto o Papa discursou por apenas 15 minutos, a presidente Dilma levou o dobro do tempo para dar um tom político claramente fora de hora. Como que esperando que o Papa fosse se referir aos recentes protestos ocorridos pelo país, Dilma tratou de se justificar, repetindo a tese de Lula, que atribuiu os protestos aos sucessos dos governos petistas: "Democracia gera desejo de mais democracia. E inclusão social provoca cobrança de mais inclusão social. Qualidade de vida desperta anseios por mais qualidade de vida. Para nós, todos os avanços que conquistamos são só um começo", disse a presidente.
Ela afirmou que a juventude brasileira clama por mais direitos sociais. "Mais Educação, melhor Saúde, mobilidade urbana, Segurança, qualidade de vida na cidade e no campo". Na parte mais diretamente partidarizada, a presidente Dilma afirmou ainda que o Brasil "se orgulha de ter alcançado extraordinários resultados nos últimos dez anos na redução da pobreza. Fizemos muito e sabemos que ainda há muito a ser feito."
O Papa Francisco, que em outras oportunidades tratou de temas como a desigualdade e a necessidade de haver melhor distribuição de renda, estava a fim de falar apenas do seu objetivo central, que é a arregimentação da juventude para o catolicismo: "Cristo abre espaço para eles, pois sabe que energia alguma pode ser mais potente que aquela que se desprende do coração dos jovens", afirmou em seu discurso.
Como já havia feito na sua chegada ao Rio, quando se arriscou, sem perder o bom humor, no contato físico com o povo que cercou seu automóvel, o Papa Francisco fez questão de reafirmar a busca do despojamento ao destacar que não trazia "nem ouro nem prata, mas apenas Jesus Cristo".
Como se quisesse acentuar sua preocupação com o aspecto religioso de sua visita, ele garantiu que depois de amanhã pedirá por todos os brasileiros a Nossa Senhora Aparecida, "invocando sua proteção materna sobre seus lares e famílias".
Num país em que a Igreja Católica já foi hegemônica e hoje é amplamente majoritária, mas onde o pluralismo religioso vem se consolidando, com o crescimento dos evangélicos, o Papa parece mais empenhado em aproximar os jovens da religião, num proselitismo mais religioso que político.
O professor Cesar Romero Jacob, diretor do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, lançou recentemente o e-book "Religião e Território no Brasil: 1991/2010", da Editora da PUC, que mostra que a Igreja Católica perdeu 24 pontos percentuais em 30 anos, quando o número de católicos caiu de 89% da população para 65%.
Provavelmente, o Papa Francisco terá ocasião, em sua visita ao país, de abordar temas como transparência na Igreja Católica e na política, globalização, opção preferencial pelos pobres, diálogo com os não crentes e ateus, que o aproximam da Igreja da América Latina. Mas, assim como é muito crítico a uma "civilização consumista, hedonista, narcisista", com "pessoas descartáveis", ele também tem uma visão crítica da política atual: "Algo aconteceu com nossa política, ficou defasada em relação às ideias, às propostas... As ideias saíram das plataformas políticas para a estética. Hoje, importa mais a imagem que o que se propõe. (...) Saímos do essencial para o estético, endeusamos a estatística e o marketing".
Enquanto o Papa discursou por apenas 15 minutos, a presidente Dilma levou o dobro do tempo para dar um tom político claramente fora de hora. Como que esperando que o Papa fosse se referir aos recentes protestos ocorridos pelo país, Dilma tratou de se justificar, repetindo a tese de Lula, que atribuiu os protestos aos sucessos dos governos petistas: "Democracia gera desejo de mais democracia. E inclusão social provoca cobrança de mais inclusão social. Qualidade de vida desperta anseios por mais qualidade de vida. Para nós, todos os avanços que conquistamos são só um começo", disse a presidente.
Ela afirmou que a juventude brasileira clama por mais direitos sociais. "Mais Educação, melhor Saúde, mobilidade urbana, Segurança, qualidade de vida na cidade e no campo". Na parte mais diretamente partidarizada, a presidente Dilma afirmou ainda que o Brasil "se orgulha de ter alcançado extraordinários resultados nos últimos dez anos na redução da pobreza. Fizemos muito e sabemos que ainda há muito a ser feito."
O Papa Francisco, que em outras oportunidades tratou de temas como a desigualdade e a necessidade de haver melhor distribuição de renda, estava a fim de falar apenas do seu objetivo central, que é a arregimentação da juventude para o catolicismo: "Cristo abre espaço para eles, pois sabe que energia alguma pode ser mais potente que aquela que se desprende do coração dos jovens", afirmou em seu discurso.
Como já havia feito na sua chegada ao Rio, quando se arriscou, sem perder o bom humor, no contato físico com o povo que cercou seu automóvel, o Papa Francisco fez questão de reafirmar a busca do despojamento ao destacar que não trazia "nem ouro nem prata, mas apenas Jesus Cristo".
Como se quisesse acentuar sua preocupação com o aspecto religioso de sua visita, ele garantiu que depois de amanhã pedirá por todos os brasileiros a Nossa Senhora Aparecida, "invocando sua proteção materna sobre seus lares e famílias".
Num país em que a Igreja Católica já foi hegemônica e hoje é amplamente majoritária, mas onde o pluralismo religioso vem se consolidando, com o crescimento dos evangélicos, o Papa parece mais empenhado em aproximar os jovens da religião, num proselitismo mais religioso que político.
O professor Cesar Romero Jacob, diretor do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, lançou recentemente o e-book "Religião e Território no Brasil: 1991/2010", da Editora da PUC, que mostra que a Igreja Católica perdeu 24 pontos percentuais em 30 anos, quando o número de católicos caiu de 89% da população para 65%.
Provavelmente, o Papa Francisco terá ocasião, em sua visita ao país, de abordar temas como transparência na Igreja Católica e na política, globalização, opção preferencial pelos pobres, diálogo com os não crentes e ateus, que o aproximam da Igreja da América Latina. Mas, assim como é muito crítico a uma "civilização consumista, hedonista, narcisista", com "pessoas descartáveis", ele também tem uma visão crítica da política atual: "Algo aconteceu com nossa política, ficou defasada em relação às ideias, às propostas... As ideias saíram das plataformas políticas para a estética. Hoje, importa mais a imagem que o que se propõe. (...) Saímos do essencial para o estético, endeusamos a estatística e o marketing".
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