terça-feira, julho 23, 2013

Dilma entre o PT e o cargo - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 23/07

Temerosas diante do risco de derrota de seu projeto de poder em 2014, facções do partido querem que a presidente seja mais militante e menos chefe da nação



À medida que saem pesquisas que mostram redução de apoio popular a Dilma Rousseff e cresce a possibilidade de segundo turno nas eleições do ano que vem, o PT se agita e a relação com a presidente fica tensa, enquanto cresce no partido a turma do “queremismo”, pela volta de Lula. Muita coisa, afinal, está em jogo: 22 mil cargos de confiança, usados no aparelhamento da máquina pública, controle de estatais com ambicionados orçamentos etc.

É neste contexto que a presidente, no fim de semana, não foi à reunião da executiva nacional do partido, alegando uma agenda de trabalho sobre a visita do Papa Francisco. Em carta aos militantes, defendeu as “ruas”, o plebiscito da reforma política e se colocou ao lado de Lula. Dilma está entre o partido e a Presidência. Como a reeleição entrou em zona de risco, surgem pressões de alas petistas para que ela seja mais militante e menos presidente do Brasil. É uma armadilha, na qual Dilma cairá se não agir como chefe da nação. Ela não deve se impressionar com pesquisas feitas a mais de um ano das urnas. Neste momento, elas refletem o clima detectado nas manifestações. A presidente deve é se concentrar em governar, ser intransigente com a corrupção, levar a inflação o mais rapidamente possível para a meta (4,5%), recuperar, enfim, a credibilidade da política econômica, por ações como a restauração da seriedade na apresentação das contas públicas.

Isso atrairá investimentos externos em geral, e, em particular, para as licitações de projetos de infraestrutura a serem feitas neste segundo semestre. Assim, poderá conseguir uma taxa de crescimento econômico mais elevada este ano. E, se tudo isso acontecer, deverá chegar ao final do primeiro semestre de 2014 com boa parte da popularidade recuperada.

Ela precisa fugir da agenda de confronto a que petistas tentam levá-la. A ideia do plebiscito surgiu da inviabilidade legal da “constituinte exclusiva”, sonho de consumo destas alas do partido, para, numa assembleia sem a barreira da maioria qualificada, poder-se alterar regras eleitorais e, com facilidade, contrabandear para a Carta mecanismos de “democracia direta” de inspiração chavista.

Querer forçar Dilma e aliados a entrar em rota de colisão com o Poder Judiciário, em nome do tal plebiscito, é um desvario. Fingem esquecer a nota do Tribunal Superior Eleitoral, em que é reafirmada a barreira da anualidade para qualquer alteração na legislação eleitoral entrar em vigor. A tese de facções petistas está isolada. O deputado Candido Vaccarezza, de São Paulo, escolhido pelo presidente da Câmara, Henrique Alves, para presidir a comissão da reforma, foi alvo de manifesto de um grupo do partido por não ser muito firme na defesa do plebiscito. O PMDB, o maior aliado, nunca embarcou no projeto. Mesmo assim, forçam Dilma a tomar o rumo de uma crise político-institucional.

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