FOLHA DE SP - 17/07
SÃO PAULO - O gigante acordou nas ruas, mas no campo das pesquisas clínicas parece adormecido. Problemas técnicos e burocráticos na aprovação de projetos continuam afugentando multinacionais e fazendo com que o Brasil só realize 1% dos estudos clínicos do mundo.
Além de abocanhar apenas migalhas dos 50 bilhões de dólares do setor, o país segue como um mero desconhecido para a comunidade científica internacional, conforme revela a Folha hoje.
Por mais bem-intencionada que seja a conexão de centros de pesquisas nacionais a instituições responsáveis por desenhar os testes clínicos, a iniciativa será inútil se persistirem os problemas da Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa).
Só neste ano, 41 estudos clínicos que deveriam ser realizados, não o serão por conta da burocracia, prazos e processos. No mês passado, em audiência com pesquisadores de São Paulo, o coordenador da Conep, Jorge Venâncio, disse que havia 600 projetos à espera de aprovação.
Por insuficiência de pessoal técnico e outros problemas, a comissão só tem condições de avaliar cem projetos por mês. Venâncio promete dobrar a produtividade e zerar a fila de espera até o final do ano. A ver.
É claro que a agilidade deve acompanhar o cumprimento dos princípios éticos previstos no Código de Nuremberg, que norteia as pesquisas com seres humanos desde o julgamento dos crimes cometidos durante a Segunda Guerra Mundial.
Ao longo da história, a falta de segurança nos ensaios clínicos levou a tragédias como a da talidomida, na década de 1960. Prescrita como sedativo e no combate às náuseas da gravidez, a droga provocou defeitos graves na formação de braços e pernas de bebês do mundo todo.
As normas de segurança que regem os estudos clínicos que antecedem uma nova droga devem ser seguidas com rigor. Mas sem delongas que só atravancam a saúde, a ciência e as finanças do país.
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