VALOR ECONÔMICO - 17/07
Menos propaganda, mais política, o novo lema da reeleição
Dia sim, o governo Dilma Rousseff se convence de que o governador Eduardo Campos é candidato a presidente em 2014; e dia não tem certeza que seus movimentos refluíram e o governador permanecerá aliado no primeiro e no segundo turnos da eleição presidencial. Hoje é dia sim: na avaliação do governo, depois de recuar, período em que sumiu de Brasília, dos encontros com empresários e das conversas políticas, coincidindo com os movimentos de protesto que tomaram as ruas, o governador está novamente candidato com força total. Os líderes do PSB no Congresso, seus amigos, governadores aliados e analistas de pesquisas nunca duvidaram de sua candidatura. O governo federal, porém, oscila.
E não há uma explicação para sentimentos tão opostos em espaços tão curtos de tempo. A não ser que tenha a presidente Dilma informação privilegiada sobre a veracidade dos acertos secretos que, nas conjecturas do PT, o ex-presidente Lula e o governador Eduardo Campos fazem em reuniões não registradas.
Fato é que, neste momento, para o governo, Eduardo é inimigo porque é candidato concorrente. Porém, não se sabe se por fingimento da equipe que define estratégias da reeleição, o governador de Pernambuco não ocupa o primeiro lugar nas preocupações dos encarregados de executar a nova ordem da candidatura Dilma: "Menos propaganda e mais política".
Os executores dos próximos passos da recandidatura já afastaram, também, o temor de que o ex-presidente Lula, partindo do princípio inicial de que seria candidato em 2014 se a presidente Dilma não tivesse condições de enfrentar a disputa, ceda seu lugar ao neto de Miguel Arraes.
Não haverá dois candidatos do campo governista, um do PT e um do PSB, assegura mais uma vez uma autoridade próxima à presidente candidata à reeleição. O que significa que, se Eduardo sair candidato, estará no campo da oposição e sem o apoio de Lula.
Avalia também o governo que, antes das manifestações, com a queda de seus índices de popularidade em Pernambuco, o governador manteve-se discreto porque tudo estava mais difícil para ele. Agora, quando tudo ficou mais difícil para a presidente Dilma, Eduardo teria se reanimado. Concluem os auxiliares da presidente: "O que não significa que ficaram fáceis para ele".
O governador de Pernambuco tem um problema a persegui-lo e isto é contabilizado como negativo para sua candidatura no comitê político da reeleição. Também, não caiu nas graças da "rede". Está o governador num limbo estranho da política.
Trabalham o comitê da reeleição e ministros políticos do governo com a evidência de que o movimento das ruas funcionou positivamente, sim, para a candidatura de Marina Silva e para a candidatura de Joaquim Barbosa, o presidente do Supremo e relator do mensalão que continua afirmando não ser candidato. E não toma conhecimento dos resultados de pesquisas que mostram, como a feita pelo MDA, divulgada ontem, que Eduardo Campos teve crescimento na preferência do eleitorado, bem como cresceram os índices dos que declaram intenção de votar nulo ou em branco.
É frágil a nuance estabelecida na análise da equipe do governo: os votos nulos, em branco e em Marina Silva fariam parte do contingente do eleitorado que está praticando a negação da política institucionalizada. Em Eduardo Campos, não, por isso seu nome teria crescido pouco no rastro dos protestos. Uma avaliação ainda incipiente, superficial, que exige abordagem mais científica para ser crível.
Marina, nesta concepção, seria entre todos, portanto, a detentora das maiores chances de reunir apoios e vencer Dilma. Um partido não lhe faria a menor falta. Por qual partido candidatou-se Jânio Quadros? Por qual partido elegeu-se Fernando Collor? São as perguntas feitas próximo à presidente Dilma para reduzir a importância de se pertencer a uma legenda forte. O que vale é o apoio financeiro e técnico que receberá se deixar-se conduzir.
Isso significa manter consigo os assuntos que lhe interessam e deixar que Banco Central, Ministério da Fazenda e Receita Federal sigam orientados por seus apoiadores da "plutocracia financeira e industrial". Não é brincadeira, é o tipo de análise que está sendo feita pelos potenciais adversários da candidata verde.
Sobre o presidente do Supremo, que apareceu na pesquisa Datafolha com 15%, mas não foi incluído na consulta do MDA divulgada ontem, a equipe política e de propaganda da reeleição tem feito trabalhos de neutralização antecipada, levantando informações sobre o candidato para instruir ações se ele vier a ser.
Sobre o candidato do histórico adversário PSDB, Aécio Neves, fala-se pouco entre os combatentes da reeleição, mais dedicados aos fatos novos do quadro da disputa. Mas o veem sem chances, embora esteja em terceiro lugar nas pesquisas.
Enquanto parte da equipe cuida dessas questões políticas, numa tentativa de apartá-las dos domínios do publicitário João Santana, o governo deixa com o marqueteiro a aposta na recuperação da candidatura por intermédio da recuperação da economia. A inflação está caindo, registra-se no Planalto, e Guido Mantega e Alexandre Tombini encontrarão um caminho, até dezembro, para recuperar o prestígio da presidente Dilma Rousseff.
Há um grupo de bombeiros dizendo à presidente Dilma Rousseff que o PMDB não é um problema, mas uma solução. Sempre esteve onde está, não tem segredo, não tem mistério. É preciso conviver com um partido que tem quase 100 deputados e, para apoiar a presidente exige, adequadamente, participar do governo. Tem lá suas pretensões, seus objetivos. Não é preciso gostar dele, pois em política não há relação de afeto mas, prioritariamente, o que o nome diz, relação política. Não é possível escolher interlocutores, eles existem, estão ali no seu devido lugar. Todas as atividades têm seus especialistas, a política também tem. Os interlocutores não revelam o que a presidente diz após a peroração.
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