FOLHA DE SP - 17/07
Por qualquer ângulo que se olhe, a 'nova matriz econômica' tem sido um fiasco retumbante
"Se minha Teoria da Relatividade estiver correta, a Alemanha dirá que sou alemão e a França me declarará um cidadão do mundo. Mas, se não estiver, a França dirá que sou alemão e os alemães dirão que sou judeu."
Enorme (astronômica mesmo) é a distância que vai de Guido Mantega a Albert Einstein, mas não pude deixar de me lembrar dessa frase ao ler a tentativa patética de ilustres representantes do "keynesianismo de quermesse" de renegar modelo econômico adotado recentemente no país, buscando também se distanciar do falante ministro da Fazenda.
Durante os anos em que o país adotou o chamado "tripé macroeconômico", caracterizado pelo câmbio flutuante, pelo compromis- so com as metas de inflação e pelo cumprimento das metas do superavit primário, autodenominados "desenvolvimentistas" não se vexaram de prometer um desempenho melhor caso sua estratégia fosse adotada.
Segundo esse pessoal, seria possível crescer muito mais caso a taxa de câmbio fosse administrada, a taxa de juros, reduzida, o grau de intervenção do governo na economia aumentasse (via políticas setoriais) e a política fiscal fosse relaxada.
Não é necessário nenhum grande salto de imaginação para notar que essas têm sido as vigas mestras do que se convencionou chamar de "nova matriz econômica", que entrou paulatinamente em vigor nos anos finais do governo Lula, ganhando força considerável nestes dois anos e meio da administração Dilma. Diga-se, aliás, que a transição foi aplaudida entusiasticamente por todos os que defendiam essa alternativa ao "tripé".
Os resultados dessa política estão nas manchetes de todos os jornais: crescimento pífio, inflação acima do topo da meta, deficit externos crescentes e desarticulação do investimento. Por qualquer ângulo que se olhe, a "nova ma- triz econômica" tem sido um fiasco retumbante.
Sob condições ideais, nem tudo estaria perdido. Conhecidas as consequências da experimentação "desenvolvimentista", pesquisadores sérios tentariam entender o que estava errado em sua formulação original e, no processo, ganhariam algum conhecimento.
Nada que economistas mais bem treinados não soubessem, posso assegurar, mas certamente novidades para os que não tiveram esse privilégio.
No entanto, como diria um amigo, de onde menos se espera é que não vem nada, mesmo. Em vez de reconhecer os erros e buscar entendê-los, testemunhamos a abjuração deslavada, como se a política governamental fosse mesmo distinta daquela preconizada por esse grupo.
O problema do governo, afirmam, foi não ter percebido que a desaceleração corrente seria distinta da observada na crise de 2008/09.
O argumento, porém, pena com sua suposta justificativa para a diferente natureza da fraqueza atual, já que --por formação ou ignorância, mesmo-- deixam de lado o fato mais óbvio: a economia operando próxima ao pleno emprego, em contraste com o período da crise, e insistem na tese de o anêmico desempenho nacional resultar do baixo crescimento mundial.
É duro de engolir. À parte a desaceleração global ser uma pálida sombra do enfarte econômico de 2008/09, não se pode ignorar o desempenho dos demais países emergentes, em particular os latino-americanos, cujo crescimento tem sido bem mais vigoroso que o brasileiro e sem os nossos desequilíbrios, como mostra a inflação muito mais baixa nesses países.
Partindo de um diagnóstico equivocado, tentam se diferenciar das políticas adotadas como se estas tivessem atuado na direção correta, apenas em intensidade insuficiente. Em outras palavras, defendem gastos ainda maiores, sem aparentemente levar em conta que o dispêndio federal está no nível mais alto da história, muito menos perceber as consequências desse tipo de política sobre a inflação e as contas externas.
Nada esqueceram e nada aprenderam; exceto talvez que a derrota é uma órfã que precisa ser abandonada no primeiro artigo que se tenha chance.
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