FOLHA DE SP - 17/07
BRASÍLIA - Luiz Inácio Lula da Silva escreveu um artigo para o jornal "The New York Times" a respeito da onda de protestos de rua pelo Brasil.
O ex-presidente usa o texto para duas finalidades. Primeiro, faz um autoelogio sobre seu governo e a ampliação da sociedade de consumo. Depois, aponta razões da insatisfação dos brasileiros. Aí, claro, o responsável é um sujeito oculto.
O PT está no comando do país há dez anos e meio, com Lula e Dilma Rousseff. É mérito petista o aumento do mercado consumidor. Mas está nesse mesmo escaninho a responsabilidade pelo que não foi realizado.
"Eles [os manifestantes] querem uma melhoria na qualidade dos serviços públicos", escreve Lula. É verdade. E prossegue: "As preocupações dos jovens não são apenas materiais (...) Acima de tudo, eles demandam instituições políticas que sejam mais limpas e transparentes, sem as distorções do sistema político-eleitoral anacrônico brasileiro, que recentemente se mostrou incapaz de conduzir uma reforma".
Como assim? O "sistema" se mostrou incapaz? De qual sistema Lula está falando? O ex-presidente escreve como se não tivesse se esbaldado por oito anos em abraços com tudo o que ele próprio rejeitara no passado, inclusive xingando em público --como Fernando Collor e José Sarney.
Chega a ser comovente o esforço de Lula para se aproximar dos manifestantes que foram às ruas. Ele prega a renovação dos partidos, inclusive do PT. A proposta é curiosa.
Lula manda no PT. O que foi realizado para modernizar o petismo nos últimos dez anos? Nada, exceto distribuir cargos públicos a filiados.
"Enquanto a sociedade entrou na era digital, a política permaneceu analógica", escreve Lula. Já ele próprio entrou numa era de distanciamento. Até porque, se desejasse, poderia ter ido também à rua dialogar com os indignados durante o mês de junho. Mas o petista prefere escrever artigos para o "New York Times".
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