Além do mais, o Brasil sabe que, de fato, os problemas aumentaram: o governo não investiu o que estava autorizado pelo orçamento nos últimos anos, mas os gastos de custeio aumentaram mais do que as receitas. Houve sucessivos e abusivos truques contábeis que tornaram menos confiáveis os indicadores fiscais, o país cresce pouco e a população está descontente. No meio de tudo isso, um grande grupo empresarial, alavancado principalmente em bancos públicos, está passando por uma traumática reestruturação. O Brasil hoje é um país mais arriscado e, em parte, por erros na condução da política econômica.
Nesse contexto é que a Standard & Poor"s fez esta semana uma conferência pela internet com investidores para dizer como está vendo a economia brasileira. A agência colocou o Brasil em perspectiva negativa e um rebaixamento teria efeito de elevar o custo de captação no país. O processo de revisão é lento, e isso, de certa forma, é sinal de amadurecimento econômico, segundo a S&P, porque houve aumento na confiança internacional depois de quase 20 anos de estabilização econômica. Esse é o ponto positivo.
O negativo é que o diretor para risco soberano da agência Sebastian Briozzo enxerga um enfraquecimento estrutural da economia brasileira, nos últimos anos, com crescimento baixo, divida pública em alta, investimentos fracos, tanto do governo quanto do setor privado. A inflação continua pressionada e há pouco espaço para novos estímulos via gastos públicos e crédito. Ou seja, o governo precisa do investimento privado para voltar a engrenar o PIB, mas não tem conseguido estimular o apetite por risco dos empresários.
Briozzo avalia que a alta popularidade tirou de governo o senso de urgência por reformas estruturais, como da previdência e tributária, que melhorariam a competitividade da economia como um todo. Nesse sentido, a resposta pública às manifestações das ruas será acompanhada de perto pela Standard & Poor"s.
- Essas manifestações podem dar um novo senso de urgência ao governo. Mas como isso vai se transformar em ação é algo que vamos acompanhar de perto. Essa pressão pode levar o governo a fazer grandes reformas ou pode provocar relaxamento fiscal, que, se acontecer, agravará o risco de rebaixamento da nota de crédito - disse.
A revisão do rating acontece em um momento ruim da conjuntura econômica. Hoje, o IBGE divulga o IPCA de junho e é grande a chance de que ele estoure o teto da meta pela décima vez desde o início do governo Dilma. A alta do dólar eleva o risco inflacionário e o custo financeiro das empresas, mas ainda não produziu o efeito positivo que é o de melhora das contas externas. O déficit em transações correntes está em 3,2% do PIB e o país permanece com déficit na balança comercial.
O Ministério da Fazenda tem desmontado todo o arsenal que usou recentemente para impedir a entrada de dólares no Brasil, porque, antes, o fluxo de dólar para o Brasil era abundante. Agora, precisa atrair capital. Tem retirado até as travas contra o capital especulativo e de curto prazo. Uma verdadeira reviravolta, para um governo que até bem pouco tempo criticava os países ricos por provocarem uma tsunami cambial. Um rebaixamento da nota de crédito reduziria esse fluxo de moeda estrangeira.
Seria interessante o governo olhar com mais cuidado para os alertas que são feitos pelas agências de risco e por todos aqueles que têm criticado a política econômica. Nem o Banco Central está fora dessa onda de tentar adaptar os números à versão mais conveniente. Ele mudou o conceito de superávit primário que usa para evitar a explicitação dos problemas que existem hoje dentro desse indicador fiscal. Adianta pouco tapar o sol com a peneira. Melhor seria enfrentar os problemas que vêm tirando credibilidade da política econômica e, portanto, do próprio país.
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