O Estado de S.Paulo - 16/07
Em 2 de agosto de 1914 o escritor Franz Kafka escreveu em seu diário: "A Alemanha declarou guerra à Rússia. Hoje à tarde, banho de piscina". Explodira a primeira Guerra Mundial. A frase tornou-se um clássico e agora expressa o sentimento de muitos governistas a respeito do que fazer diante da crise em curso.
As reações de bate-pronto engendradas nas oficinas do Palácio do Planalto - propostas de pactos fictícios, Constituinte inconstitucional, plebiscito impraticável e reuniões infrutíferas - não deram certo. Portanto, melhor esperar a poeira baixar, aproveitar o recesso do Congresso, torcer para que haja uma trégua nas manifestações e partir para uma reação mais organizada e consistente.
"É preciso absorver os golpes para sair das cordas", diz um ministro do PT que integra o grupo responsável pela administração do prejuízo. Como exatamente ainda não se sabe, mas o conceito mestre seria o de se fazer mais política e menos propaganda.
Serve para 2013 e para 2014. Na perspectiva do panorama visto de Brasília, a campanha eleitoral será totalmente diferente das dos últimos anos em que prevaleceu o marketing sobre o diálogo franco e maduro com a sociedade.
"É bravata falar em vitória no primeiro turno", pondera o ministro que, no entanto, trabalha com um cenário de melhora dos índices de popularidade da presidente para um patamar competitivo. Concorda com os que falam na casa dos 40%.
Piorar não é possível, na concepção governista. A menos que surgissem denúncias que atingissem Dilma Rousseff pessoalmente. O diagnóstico para a queda da boa avaliação considera dois vetores: interesses econômicos contrariados e a ausência de um "trato" mais adequado em relação a todos os setores, Congresso inclusive.
No tocante a 2013, a receita seria melhorar esse "trato" ouvindo mais e impondo menos, tomar medidas que produzam resultados concretos e, claro, a tão falada reforma ministerial. Não nos termos propostos pelo PMDB de abrir mais espaços para o partido na máquina nem na sempre sugerida redução drástica de ministérios.
Se há datas, modelos e nomes já escolhidos, são mantidos em absoluto sigilo. O máximo que se fala é numa "exaustão" do comando da economia, indicando troca no Ministério da Fazenda, e na necessidade urgente de pôr ordem na área política. Algum enxugamento de pastas há de haver, por meio de incorporação de ministérios cujos titulares teriam mais "visibilidade".
Há no governo quem reconheça que ocorreu um "desgaste enorme" com as manifestações de junho, que foi um "retumbante fracasso" a tentativa das centrais sindicais de recuperarem o comando das ruas, que não é prudente acirrar os ânimos com o Congresso nem tampouco vai condicionar as ações à dita agenda positiva (aflitiva) do Parlamento.
Há chance de o ex-presidente Lula voltar? Por ora nem pensar. "O governo está acuado, é verdade, mas a oposição também não soube se colocar e o Congresso não terá vida fácil na eleição. Por enquanto, quem nada de braçada é a Marina (Silva)".
Porta-nó. Ministros e parlamentares do PT não gostam da atuação do ministro Aloizio Mercadante no papel de porta-voz da crise.
Duas queixas mais recentes: a declaração de que o Congresso "vai pagar caro" por ter recusado o plebiscito e a forma como lida com a hipótese de uma CPI da Copa.
Informado sobre a obtenção das assinaturas necessárias entre deputados e senadores, Mercadante disse à base tudo bem, o governo "não tem nada a temer".
Alguns parlamentares telefonaram para gabinetes ministeriais a fim de conferir e ouviram que não é bem assim, porque todos os questionamentos seriam relativos a ações governamentais.
A ordem é não deixar acontecer.
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