FOLHA DE SP - 16/07
SÃO PAULO - Enquanto se gastam toneladas de papel e litros de saliva para tentar explicar o que mudou no Brasil depois das manifestações de junho, duas reportagens daFolha dos últimos dias atestam que muito pouco. Quase nada.
Duas filhas de ministros do Supremo Tribunal Federal, com escassa experiência como advogadas e sem títulos acadêmicos de relevo, estão cotadas para virar desembargadoras.
Marianna, 32, e Leticia, 37, filhas, respectivamente, de Luiz Fux e Marco Aurélio Mello, não prestaram concurso. Sua eventual indicação se daria pelo dispositivo constitucional que reserva 20% das vagas em alguns tribunais para advogados e membros do Ministério Público.
Os pais togados tiveram reação distinta diante da reportagem de Leandro Colon e Diógenes Campanha: Marco Aurélio saiu em defesa da filha e disse que não fez lobby por ela, só ligou para agradecer a atenção'' dos desembargadores (eleitores) que a receberam. Fux, cuja própria campanha para o STF teve lances controversos, não quis falar.
Em mais um retrato do Brasil, Daniela Lima nos apresentou Emanuel von Laurenstein Massarani, 78. Entre outras peripécias, o personagem distribui falsas bênçãos papais a deputados e prefeitos. E, quando questionado por se apresentar como ex-embaixador, sem nunca ter sido, diz ter título de embaixador de Itápolis!
Distintos entre si, os dois casos são representativos do baixo grau da institucionalidade brasileira, que permanece o mesmo após os protestos.
Ministros da mais alta corte do país deveriam recomendar que a prole não usasse o sobrenome como cartão de visitas. E que prestasse concurso público para realizar a eventual vocação para a magistratura.
Já o fanfarrão de Itápolis seria cômico, não fosse o fato de ter sala, carro e assessores pagos pela Assembleia de SP, sem ser servidor da Casa. Bem feito para quem lhe deu guarida pensando estar abençoado, mas, na verdade, só pagou um tremendo mico.
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