terça-feira, junho 18, 2013

Ruim também de propaganda - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 18/06

Governo reclama com maus modos e desconversa de "catastrofismo" dos críticos da economia


O GOVERNO de Dilma Rousseff poderia ter encontrado um modo mais elegante e inteligente de mudar de assunto. Isto é, de dar adeusinho ao grosso de sua política econômica, que não deu em nada.

A presidente deu o tom da desconversa, dourando a pílula com citação de Camões e reclamando do comentarismo econômico. Vozes anônimas de seu governo se queixam do "terrorismo informativo" e do "catastrofismo" de jornalistas e economistas do setor privado.

Para fazer uma sugestão sarcástica, mas nem tanto, talvez fosse mais inteligente culpar o governo de Geraldo Alckmin por criar um clima de mal-estar no Brasil, o que vai respingar na presidente, por ora "au-dessus de la mêlée", longe da confusão.

A pancadaria da polícia alckmista transformou um movimento diminuto em estrela da TV e das "redes sociais", criou movimentos replicantes e convocou passantes e desatentos a protestar contra a repressão bárbara e outras insatisfações de cada um nesta São Paulo tensa de trânsito ruim, latrocidas, trens quebrados e gente entuchada como gado nos metrôs e ônibus.

Mas passemos. O caso aqui é a saída pelos fundos do governo Dilma. Um bom fabricante de discursos presidenciais poderia ter induzido a presidente a dizer que o governo procurou proteger a economia dos efeitos piores ou ainda incertos da "crise internacional" nos primeiros dois anos e preparava as condições para uma "nova rodada" de investimentos privados. Ao mesmo tempo, a presidente poderia ter ideias novas e boas e tentar reconstruir as pontes com o setor privado, muitas delas queimadas.

Mas não. O governo falsifica até o metro que propôs para medir seu sucesso ou metas. Tomou posse prevendo crescimento médio de 5,9% ao ano no primeiro mandato. Baixou a bola para 4,5% para o primeiro ano, 2011. Depois a meta passou a ser 4%. Em 2013, cresceríamos pelo menos 3,5%. Na média dos anos Dilma, vai ser enfim difícil passar de 2,5% ao ano.

Uns 2,5% ao ano não é lá uma catástrofe, mas um vexame, dadas as ambições iniciais. Mais importante, é difícil achar "terroristas informativos" por aí.

As principais equipes de analistas econômicos privados nem espinafraram a política econômica do governo Dilma (em público, em documentos oficiais, quero dizer).

Tentaram entender os métodos iniciais declarados (que em 2011 até faziam sentido), apontaram incoerências elementares e, depois, como qualquer observador de bom-senso, notaram até discretamente que o gato despencava do telhado.

Em 2011, de resto, empresários e financistas tinham até grande boa vontade com Dilma, muitos deles felizes por se verem livre de Lula. Foi a presidente que queimou pontes a troco de nada, de nenhum objetivo maior. O investimento minguou, os bancos privados foram para a retranca e o país passou a se arrastar, não apenas, claro, por falta de "confiança". Mas os chutes na canela contribuíram para a retirada empresarial.

De resto, se queres um monumento, olha em torno; o rei está peladão. A realidade, e não os terroristas, informa que a inflação da comida chegou a subir quase o dobro dos salários, o crescimento do país vai ficar engasgado pelo menos até 2015, a infraestrutura é a ruína habitual etc.

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