FOLHA DE SP - 18/06
BRASÍLIA - As vaias à presidente Dilma Rousseff na estreia do Brasil na Copa das Confederações têm de ser relativizadas. Além de o público do estádio Mané Garrincha não representar a maioria do eleitorado brasileiro, a verdade é que, mais cedo ou mais tarde, todo governante é vaiado. Nem o popularíssimo Lula escapou --aliás, em circunstâncias semelhantes, no Pan de 2007.
Mais preocupante para Dilma é o contexto em que ocorrem as vaias. Inflação e juros sobem, popularidade cai. O pibinho frustra, a insegurança aumenta. Dólar dispara, Bolsas caem. Base aliada inflada, mais problemas para o Planalto. E o principal: os protestos populares ganharam o país e são mostrados ao mundo.
É óbvio que R$ 0,20 a mais nas passagens em São Paulo não seria suficiente para botar o povo nas ruas do país, em multidões cada vez maiores, com imagens impressionantes. Esse foi apenas o detonador, o gatilho de manifestações de grupos distintos e de motivações difusas.
Também é certo que o alvo não é Dilma Rousseff, ou, pelo menos, só o governo Dilma Rousseff. São muitos os motivos de irritação, são muitos os alvos. E eles estão nos palácios.
Os palácios dos governos estaduais, como o de Geraldo Alckmin, tucano, os das prefeituras, como a de Fernando Haddad, petista. E os de todos os níveis do Legislativo e do Judiciário. A previsão do ministro Dias Toffoli de que o julgamento do mensalão possa durar mais dois anos pode ter sido até uma pitada a mais nesse tempero, nesse caldeirão.
Com o pretexto ora do aumento das passagens, ora dos gastos milionários com estádios da Copa, o fato é que as redes sociais mostram sua força também aqui e os brasileiros estão dando um recado. Que Dilma releve as vaias restritas, mas saiba ouvir os gritos disseminados. E, como ela, governadores, prefeitos, parlamentares e magistrados.
A fantasia de que o país está um paraíso, uma maravilha, acabou. A verdade dói, mas ajuda a melhorar.
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