terça-feira, abril 23, 2013

Transporte precário causa enorme perda nos grãos - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 23/04

Somente com a soja que vai do Centro-Oeste para os portos, o prejuízo anual está calculado em R$ 6,6 bilhões. Com o milho, é mais R$ 1,4 bilhão



O Brasil se tornou um dos principais produtores de grãos. Em volume, perde apenas para a China e os Estados Unidos. Considerando-se somente a exportação, costuma disputar o primeiro lugar, alternando com os Estados Unidos no caso da soja ,e agora, também,do milho. Além da agricultura, o país se destaca na pecuária, na avicultura e na suinocultura, com forte participação no mercado internacional. O agronegócio se estende pelo segmento de produtos florestais, pelo algodão, café, cana-de-açúcar, borracha e muito mais.

Toda essa produção deixou de se concentrar nas áreas próximas ao litoral. O Centro-Oeste já ultrapassou a região Sul como maior produtora de soja e milho. De qualquer forma, as exportações são escoadas por alguns portos situados ao longo da costa brasileira. É fundamental, então, que haja um bom sistema logístico, composto por ferrovias, rodovias, hidrovias, entrepostos e armazéns, para que se possa chegar rapidamente a esses portos e ao menor custo possível. Mas, na prática, essa infraestrutura avança com uma lentidão inconcebível. Em relação às ferrovias, por exemplo, já se perdeu a conta de quantas vezes foi adiado o início das operações de novos trechos. Nas rodovias, já virou cena clássica aquela de caminhões puxados do meio da lama no trecho não pavimentado da estrada que liga Cuiabá (Mato Grosso do Sul) a Santarém (Pará).

Mesmo nas vias em direção ao Sudeste e ao Sul ,a manutenção de muitas rodovias federais fica a desejar. Repórteres do GLOBO acompanharam o percurso — 2.450 quilômetros — da soja colhida em Mato Grosso (Lucas do Rio Verde) até o embarque no Porto de Paranaguá (Paraná), e constataram a precariedade desse corredor logístico. Quando não são os buracos nas estradas, encarecendo o frete rodoviário, é a falta de armazéns e a burocracia excessiva nos portos que provoca perdas na cadeia produtiva. Somente no caso da soja, calcula-se que a perda anual alcance a cifra de R$ 6,6 bilhões. No milho, o prejuízo seria de R$ 1,4 bilhão. Chega a ser surpreendente que, com todas essas deficiências, o Brasil ainda se msotre competitivo no agronegócio e consiga abastecer o mercado asiático concorrendo com outros produtores importantes (Estados Unidos, Canadá, Austrália, Argentina), que não se ressentem das mesmas deficiência na infraestrutura e no seu arcabouço logístico.

Cerca de 92% das exportações de grãos embarcam em portos do Sul e do Sudeste, e apenas 8% pelo Norte e o Nordeste. Trata-se de um quadro desbalanceado que já deveria ter sido em parte corrigido se a ferrovia Norte—Sul estivesse em pleno funcionamento, ou se fosse concluído o asfaltamento do trecho paraense da BR 163. Em ambos os casos, há promessas de consideráveis avanços para o fim do ano. Tomara.

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