O GLOBO - 23/04
Segundo recentes relatórios especializados, dois fatos novos deverão trazer significativas implicações políticas, econômicas e estratégicas no cenário internacional: as fontes de produção de petróleo deverão mudar e a demanda global, em especial de China, Índia e Oriente Médio, crescerá de 35% a 46% entre 2010 e 2035.
Em 2015, os EUA deverão superar a Rússia e se transformar no maior produtor mundial de gás natural. Até 2017, os mesmos EUA devem superar a Arábia Saudita e se tornar um dos maiores produtores de petróleo do mundo. De importadores, passarão, até 2025, a ser exportadores de combustível líquido, graças a um significativo aumento na produção de gás (20% de 2008 a 2012) e de petróleo (37% nesse período).
O crescimento na produção global é resultado do grande volume de investimentos feitos nos EUA desde 2003, no Canadá, na Venezuela e no Brasil. A continuação do crescimento da produção, contudo, dependerá, segundo os relatórios, de o custo de produção manter-se ao redor de US$ 70, a preços correntes. Caso haja queda da demanda por uma recessão global ou crise no Oriente Médio, o excesso de produção poderá trazer o preço abaixo dos US$ 50, ameaçando a produção global.
A partir desses fatos e projeções, surgem algumas consequências geopolíticas da revolução petrolífera. O Oriente Média poderá deixar de ser o foco das preocupações para os principais mercados consumidores, especialmente para os EUA e Europa. E a Ásia se tornará o principal mercado para a maior parte do petróleo do Oriente Médio com a transformação da China em novo protagonista no cenário politico da região.
Os EUA reduziram, desde 2006, em 40% a importação do produto. Não parece provável, porém, que para os EUA, no contexto da política externa, as questões do Oriente Médio perderão importância. A Rússia deverá reduzir suas exportações de petróleo e, sobretudo, diante da concorrência dos EUA, de gás natural para a Europa, o que tenderá a enfraquecer a importância politica relativa russa na região.
Na América Latina, o país mais afetado devera ser a Venezuela pela redução das importações de petróleo pelos EUA, hoje situadas ao redor de 10% da demanda americana. As refinarias da costa do Golfo estão substituindo o petróleo venezuelano pelo xisto betuminoso, de produção local.
Argentina, por suas reservas importantes de xisto betuminoso, e Brasil, pelas reservas do pré-sal, estarão em posição privilegiada, caso consigam superar as dificuldades internas que impedem a exploração em sua plenitude. Nos dois países, a instabilidade jurídica, derivada da modificação das normas regulatórias, as limitações financeiras das empresas e as dificuldades que atravessam as estatais petrolíferas mostram um retrocesso em suas capacidades produtivas, justamente quando ocorre essa grande transformação. No caso do Brasil, o petróleo do pré-sal não mais será absorvido pelo mercado americano, como inicialmente esperado. Outros destinos deverão ser buscados, em especial China e Índia.
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