O Estado de S.Paulo - 30/04
Cinco anos depois da instalação da maior crise econômica global desde os anos 30, os esforços para sua superação - vamos direto ao ponto - deram em nada até agora. A situação, a rigor, principalmente na Europa do euro, tem se deteriorado. É o que deve se confirmar com a divulgação, prevista para os próximos dias, de uma gorda lista de indicadores de conjuntura.
Não será surpresa se os índices de confiança na recuperação da economia insistirem em recuar, em sintonia com projeções de crescimento abaixo de zero e taxas de desemprego nas alturas de 12% da força de trabalho, com picos escabrosos como os 27% registrados na Espanha. Nos Estados Unidos, o cenário não é tão cinzento, mas o ânimo voltou a cair com os fracos resultados do primeiro trimestre. Nos dois lados do Atlântico, a timidez dos investimentos só consolida a percepção de que uma recuperação que mereça o nome continua fora da linha do horizonte.
A constatação de que os economistas continuam sem respostas aos desafios colocados pela crise global torna o ambiente ainda mais sombrio. Até agora, nenhuma ideia tem conseguido apontar um caminho seguro para a retomada do crescimento e a redução do desemprego. Na verdade, a crise persistente tem mais derrubado certezas do que promovido esperanças.
Nas últimas semanas, por exemplo, o cansaço com a falta de perspectivas abriu espaço para ataques mais agressivos aos princípios de austeridade fiscal, que predominaram até aqui na ação dos governos das economias encalacradas. A ideia de que a retomada do crescimento, em economias endividadas, só ocorre depois de completado um ciclo de contração fiscal sofreu golpes profundos com a descoberta de que alguns dos mais influentes estudos empíricos que a sustentam continham erros metodológicos suficientes para invalidar suas conclusões.
Já houve problemas com um estudo de Alberto Alesina e Silvia Ardagna, prestigiosos economistas de Harvard, que procurava demonstrar, com base em levantamentos históricos, que o padrão de saída de crises anteriores de dívida se baseava em políticas de contração fiscal. O trabalho, que defendia a teoria da "contração expansionista", sustentou as determinações de austeridade fiscal da troica - Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia -, nos países do sul da Europa, durante os primeiros anos da crise. Mas, já em 2010, o próprio FMI levantou dúvidas sobre as conclusões do estudo.
O mesmo ocorreu agora com outro estudo empírico, também de economistas de Harvard, segundo o qual o crescimento tende a se manter baixo quando a dívida bruta pública atinge o limite de 90% do PIB. De autoria dos estrelados Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart, o trabalho, como se descobriu, omite ou despreza informações relevantes e até contém erros na fórmula de organizar os dados numa planilha Excel.
No embate entre defensores da austeridade fiscal e advogados da expansão dos gastos públicos, o aperto fiscal perdeu um round importante. Mas isso não significa vitória definitiva para os "keynesianos", que receitam políticas fiscais expansionistas para enfrentar recessões.
Diferentemente das crises em que essa fórmula mostrou sucesso, o atual ativismo dos bancos centrais, ao evitar depressões, impediu a pulverização das dívidas, tirando potência da solução pela via da ampliação do déficit público - afinal, pelo menos parte do incremento de renda promovido pela expansão fiscal acaba destinada ao pagamento de dívidas e, além disso, é grande o aumento do risco de insolvência se as dívidas, já altas, aumentarem ainda mais.
Não é nada confortável verificar que, tanto tempo depois de sua eclosão, os economistas que formam a nata do pensamento econômico contemporâneo ainda estão perdidos na floresta da crise.
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