sábado, abril 06, 2013

É preciso investir muito mais - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S. PAULO - 06/04
A economia cresce­rá 3,2% neste ano, puxada por investi­mento 4% maior que o de 2012, se­gundo as novas projeções da Confede­ração Nacional da Indústria (CNI). Há um tom de oti­mismo na apresentação do cenário. "A retomada da atividade industrial parece estar garantida em 2013", de­claram logo de início os autores do Informe Conjuntural divulgado nesta  semana. A esperada expansão do investimento inclui toda a chamada formaçao bruta de capital fixo - compras de máquinas e equipamentos pelas empresas, construção e amplia­ção de fábricas, edificações imobiliá­rias e obras de infraestrutura, como rodovias, ferrovias, portos, aeropor­tos e sistemas de geração e transmis­são de eletricidade. A manifestação do chamado espírito animal dos em­presários será, portanto, apenas uma das condições necessárias para a es­perada expansão do investimento. O resultado geral dependerá também da competência do governo na exe­cução de seus planos e projetos.
Na terça-feira, um dia antes de sair o Informe da CNI, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) havia informado os números da produção industrial de fevereiro, 2,5% menor que a do mês anterior. Esse recuo praticamente anulou o aumento de 2,6% contabilizado em janeiro, mas, apesar disso, o relatório oficial trouxe um resultado animador, algo como um ponto de luz num quadro ainda escuro. A produ­ção de bens de capital, isto é, de má­quinas e equipamentos, cresceu 1,6% no mês e foi 9,1% maior que a de fevereiro do ano passado, de acor­do com o levantamento do IBGE. Além disso, o resultado do primeiro bimestre ficou 13,3% acima do regis­trado um ano antes.

Nada disso foi suficiente para com­pensar, por enquanto, o desastre de 2012.  A produção de bens de capital acumulada em 12 meses foi 7,8% me­nor que a do período imediatamente anterior. É cedo para dizer se há uma nova tendência, mas os núme­ros de janeiro e fevereiro criam a es­perança de uma retomada do investi­mento, com as empresas voltando a ampliar e a renovar seu parque pro­dutivo.

De toda forma, as previsões de in­vestimento diminuíram desde o fim do ano. Em dezembro, a CNI projeta­va um aumento de 7%, parecido com aquele estimado pelo ministro da Fa­zenda, de 8%. As principais proje­ções incluídas no Informe foram redu­zidas nos últimos três meses. A esti­mativa de expansão do Produto In­terno Bruto (PIB) passou de 4% para 3,2%, praticamente a mesma do Ban­co Central (BC), 3,1%. O crescimen­to previsto para à indústria caiu de 4,1% para 2,6% - mas até esse resulta­do pode parecer satisfatório, depois do recuo de 0,8% em 2012.

Mas é preciso olhar para além de 2013. Não há, por enquanto, como sustentar qualquer otimismo, quan­do se consideram as perspectivas dos próximos anos. O investimento projetado pela CNI, com expansão de 4%, mal servirá para compensar o recuo do ano passado, quando o to­tal investido em todos os setores da economia brasileira foi 4% menor que o de 2011.

Além disso, a formação bruta de ca­pital continuará muito abaixo do ní­vel necessário para sustentar um crescimento econômico em torno de 5% ao ano. O mínimo necessário pa­ra criar um dinamismo parecido com o de outros emergentes seria um investimento equivalente a uns 24% ou.25% do PIB. Vários países la­tino-americanos já chegaram lá. Em muitas economias da Ásia a proporção é igual ou superior a 30%.

Se o Brasil investir neste ano 4% mais que em 2012, a relação entre in­vestimento e PIB subirá de 18,1% pa­ra 18,2% e continuará muito longe do desejável. A agenda necessária pa­ra mudar esse quadro é bem conheci­da e inclui uma desoneração séria da atividade produtiva, algo muito dife­rente de uma porção de remendos mal costurados.

Do lado governamental será indis­pensável uma ampla reforma de usos, costumes e valores. O governo precisa decidir, entre outros pontos, se a sua função é organizar a vida co­letiva e promover certos investimen­tos de importância fundamental ou, bem ao contrário, distribuir cargos e favores a companheiros e aliados e financiar empresas selecionadas sem critérios estratégicos. As últimas me­xidas no Ministério reafirmam a preferência pela segunda hipótese.

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