sábado, abril 06, 2013

Derrame no Japão - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 06/04

Banco central do país asiático inunda mercado com moeda para tentar aumentar a inflação e tirar empresários e consumidores da letargia


A julgar pelas ações recentes de alguns bancos centrais do mundo desenvolvido, as autoridades monetárias não veem muito lugar para timidez nas tentativas de reanimar as respectivas economias. O último exemplo veio do usualmente comedido Banco do Japão.

O BOJ -sigla em inglês pela qual é conhecido- se comprometeu com um relaxamento inédito do controle que mantinha sobre a quantidade de moeda em circulação. Rompeu, assim, o imobilismo de mais de duas décadas diante da deflação que assola a terceira maior economia do mundo.

Se o problema do Brasil é crescer sem perder controle da inflação em alta, no Japão se trata de conseguir aumentar a taxa inflacionária para fazer a economia avançar. Quando a tendência dos preços é de queda contínua, empresários evitam investir, consumidores adiam gastos e todos dão preferência a poupar.

O BOJ vai comprar títulos públicos e privados em quantidade gigantesca pelos próximos dois anos, injetando dinheiro no mercado. Com isso, quase duplicará a base monetária (moeda em poder do público somada às reservas dos bancos), que passará de 35% para 60% do PIB até o final de 2014.

Para comparação: nos últimos cinco anos, o mesmo indicador nos EUA -que tem no Fed o banco central mais inovador no combate à crise- passou de 6% para 20% do PIB. O Banco Central Europeu também promoveu expansão monetária, mas em proporções bem mais modestas.

Além de expandir a moeda em circulação, o BOJ comprará papéis privados em quantidade. Comprometeu-se com uma meta de inflação de 2% ao ano, quando antes tolerava taxas inferiores a 1%.

A nova política, em tudo alinhada com os objetivos do novo premiê, Shinzo Abe, põe o BOJ na liderança global de agressividade monetária. É uma tentativa quase desesperada de romper o ciclo de deflação e recessão que sufoca o país desde os anos 1990.

A questão é saber se funcionará. O impacto vai depender de como o setor privado decidirá usar os recursos derramados na economia. Se ficarem represados nos bancos, nada mudará. O BOJ conta com um choque que arranque empresas e consumidores da letargia. A desvalorização do iene deve impulsionar as exportações.

Por ora, a resposta à chamada "abenomics" vem sendo positiva. A Bolsa subiu quase 50% nos últimos três meses, e o iene recuou 15% diante do dólar. Mas ainda é cedo para concluir qualquer coisa.

O único BC de peso a dar sinais de confiança na retomada econômica é o Fed, resignado com a expectativa de crescimento superior a 2%. Na Europa, o quadro é de nova queda de PIB, o que manterá o ortodoxo BCE às voltas com a dificuldade de estimular a economia.

A medida heroica adotada pelo Japão só vem reforçar a ideia de que uma alta de juros nos países centrais continua distante.

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