FOLHA DE SP - 18/03
SÃO PAULO - Para as decisões fundamentais da vida e da história, a tradição cunhou uma expressão grave. Quem atravessa o Rubicão, como o general romano que cruzou esse rio para desafiar a República, sabe que não terá caminho de volta. Não encontrará meio-termo entre a glória e a humilhação.
Na política brasileira, não precisamos ser tão radicais assim. Quem diz que não foi, como o ex-prefeito Kassab sobre a adesão ao governo Dilma, pode ter ido. Ou ter ficado no meio do caminho, com a água batendo no tornozelo. Adotemos, para o bem da nossa nação, um termo mais flexível e amigável: pular o corgo.
"Corgo" é corruptela de "córrego", muito conhecida no interior. A palavra pode soar até mais caudalosa que o necessário -um arroio, um regato, um fiozinho de água bastariam para esse propósito. Mas passemos.
Teria Eduardo Campos, o governador de Pernambuco, pulado o corgo em direção à candidatura presidencial no ano que vem? As suas movimentações recentes, entre políticos e empresários, indicam que sim. Isso prenunciaria desligamento iminente do seu partido, o PSB, da base de apoio da presidente Dilma? É o que veremos nos próximos dias.
Depois das declarações de Campos mais críticas ao governo Dilma, registradas no sábado nesta Folha, as pressões no PT e no PMDB para expelir o PSB vão se intensificar. Não seria fácil para alguns aliados e correligionários do governador de Pernambuco passar tanto tempo longe dos cargos federais que hoje ocupam. Estamos a longínquos 18 meses da eleição de 2014.
Por motivo não claramente estabelecido, o debate da sucessão presidencial antecipou-se bastante. A hidrologia da política brasileira, que prefere os veios d'água aos rios e às cataratas, não está acostumada a operar nesse cenário. Até a Justiça coíbe declarações de candidatura antes do prazo oficial. Há tempo de sobra para pular o corgo de volta.
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