CORREIO BRAZILIENSE - 20/03
Àqueles petistas que viam a antecipação da corrida presidencial como um ponto negativo para a presidente Dilma Rousseff respiram aliviados desde ontem. Ela chega ao fim do primeiro trimestre de 2013 com a popularidade nas alturas e com demonstrações de que pretende “cercar” os partidos aliados para evitar que os concorrentes — leia-se Aécio Neves, do PSDB de Minas Gerais; o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB; e Marina Silva, ainda sem partido — se criem nas costelas do governo.
O que fez os petistas respirarem aliviados foi a pesquisa CNI/Ibope, divulgada ontem. Os números deixam claro que o baixo crescimento da economia registrado até o momento não abalou a confiança do brasileiro no governo Dilma Rousseff, basta ver que 63% consideram o governo ótimo ou bom e 79% aprovam a maneira como ela administra o país.
Dilma também se saiu bem na percepção das notícias. A presença dela na tragédia de Santa Maria, onde o incêndio na boate Kiss matou mais de 200 jovens, e a redução das tarifas de energia ficaram na cabeça dos entrevistados muito mais do que o aumento do preço da gasolina. Enfim, ela pode aproveitar a visita ao papa Francisco para fazer algumas orações de agradecimento aos santos que a protegem.
Embora a metade da população desaprove as ações na área de saúde, de segurança pública e os impostos, a impressão que se tem ao olhar com cuidado os dados da pesquisa é que essas áreas não “pegaram” na avaliação da presidente. Até porque são setores que sempre podem ter os ônus e os bônus divididos com estados e municípios. Para que esses temas atinjam Dilma, a oposição formal e informal terá que se agarrar no serviço.
Até agora, todos os pré-candidatos avançaram uma casa na campanha, mas a presidente manteve a vantagem. Até o fim de janeiro, quando começaram as andanças de Eduardo Campos, havia no PT uma disputa interna para ver quem seria o candidato, Dilma ou Lula. O ex-presidente, que de bobo não tem nada, colocou logo a candidatura de Dilma na roda, de forma que ela pudesse tratar da política como se estivesse num palanque. Assim, ela fez a reforma ministerial, atraiu a cúpula do PDT e o PMDB de Minas Gerais. Na quinta-feira, conversará com o PR.
Da parte do PSDB, o senador Aécio Neves começou a se movimentar, mas ainda não pode sair pelo país com a desenvoltura de Eduardo Campos porque ainda precisa resolver o problema interno: São Paulo. Enquanto os tucanos ficam aí, nesse rame-rame paulista, divididos apesar de não ter mais ninguém com cara de novo para desfilar em nome deles, a não ser Aécio, Eduardo vai caminhando e Dilma vai tentando segurar seus aliados. Nessa batida, ou o PSDB paulista sai logo da toca e fecha com o senador Aécio a fim dar a ele as ferramentas para conquistar corações e mentes ou, quando o fizer, poderá ser tarde demais.
O próprio Eduardo Campos, muito menos conhecido do que Aécio, terá de repensar seu jogo, uma vez que Dilma lhe tirou o PDT, onde ele esperava conseguir um candidato a vice. Ou seja, a cada conversa que ele tem, vem Lula, o articulador de Dilma, e a própria presidente, tratar de cortar a comunicação ou tirar as condições de voo do socialista.
Enquanto isso, nos demais partidos…
Para completar as agruras da oposição, a popularidade da presidente registrada pela CNI/Ibope traz embutida a impressão de que se afastar dela agora pode deixar o futuro insosso. Além disso, dá a ela a vantagem na hora de negociar com os partidos. Assim, os aliados vão ficando, pedindo um cargo aqui, outro ali, e ela dando apenas aquilo que considera viável. Talvez se a pesquisa tivesse saído antes, ela tivesse enrolado um pouco mais o PMDB de Minas Gerais, por exemplo. Agora, irá enrolar talvez o PR.
A bancada do PR, entretanto, está meio indócil. Amanhã, o partido se prepara para dar um prazo à presidente. Se ela não cumprir, não está descartado uma repetição do gesto do PSD, isto é, agradecer o chamado, mas ficar livre para voar. Se ela quiser, que chame no estilo “quota pessoal”, leia-se, sem compromisso de fidelidade nas votações.
Por falar em votações
A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que comemorou seu aniversário ontem no cafezinho do Senado, foi direta na avaliação do que espera o governo no Senado. Disse que não dá para votar, por exemplo, a distribuição da Contribuição para Financiamento da Seguridade (Cofins), sob pena de desestruturar a Previdência e os programas sociais. O difícil, entretanto, será fechar essa Caixa de Pandora da repartição das contribuições exclusivas da União.
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