FOLHA DE SP - 04/03
BRASÍLIA - É curioso e significativo que Dilma Rousseff, logo ela, tenha manuscrito um bilhete mandando sua equipe afirmar o controle da inflação "como um valor em si".
Curioso porque a presidente sempre foi uma alma desenvolvimentista. Ministra de Lula, militou na ala anti-Palocci, que defendia relaxar a política monetária para ajudar a expandir a economia. Eleita, permitiu à inflação ascender além (do centro) da meta, enquanto alegava fatores sazonais e minimizava o aquecimento da demanda.
Significativo porque indica uma inflexão. Hoje, a inflação preocupa o Planalto mais do que o PIB.
O resultado da atividade econômica em 2012 (+0,9%) foi, de fato, anêmico. Mas há sinais de retomada. No último trimestre do ano, os investimentos em maquinário para produção e construção civil aumentaram. A indústria parece ter normalizado os estoques. Mantidos o ritmo da virada do ano e os juros baixos, o país crescerá além de 2% em 2013.
Além disso, estão programados para este ano leilões de rodovias, ferrovias, poços de petróleo, aeroportos e mesmo do trem-bala. Depois de levar traulitadas até de aliados, o governo melhorou prazos e taxas de retorno para quem apostar nessas grandes obras de infraestrutura.
O pacote logístico talvez não turbine o PIB de imediato. Mas contribuirá para aliviar o desânimo da iniciativa privada. Isso sem falar da nova lei de portos, que abre perspectiva atraente a investimentos.
Sobre a inflação, porém, não há boa notícia engatilhada. A taxa anualizada deve seguir rodando na casa de 6% nos próximos meses.
Não basta escrever bilhetes e reclamar dos "mercadores do pessimismo" para desarmar expectativas inflacionárias. Na ordem do dia estão calibrar as tarifas de importação, ajustar gastos correntes, manejar a supersafra de alimentos e aquietar o ministro da Fazenda, não necessariamente nesta ordem.
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