O GLOBO - 04/03
O amor é assim mesmo. De vez em quando vai ali na esquina tomar um ar. Mas volta. Às vezes com novos cabelos, outros papos, um jeito diferente de beijar
De Vânia Maria Duarte dos Santos, da Tijuca: “Andas muito exigente quanto à mulher que desejas ao seu lado. Você procura uma Brastemp completinha? Onde anda aquele galanteador de primeira?” Vânia, você desce a Senador Dantas pela calçada da esquerda, vindo da Almirante Barroso, e entra na primeira à esquerda. É a Travessa Poetas da Calçada. Entra e pega à direita, ao lado do restaurante Al Kwait. Você vai dar num outro beco, que por sua vez dá numa das entradas no edifício Darke. A última vez que vi o galanteador foi ali. Já o vi em ação. O edifício tem outras três saídas. Dependendo do resultado da abordagem, o galanteador escolhe uma. Ele parecia um pouco com o Wilson Grey, o bigodinho talvez um pouco mais consistente, não tenho certeza.
De Lúcio Flávio Gomes da Silva, de Nova Friburgo: “Antonio Maria, com dor de cotovelo pela perda da Danuza, apareceu aqui em Nova Friburgo para receber uma homenagem. A alta sociedade lhe preparou um rapapé cheio de ternos e gravatas, e ele, a estrela da noite, apareceu de calça faroeste com uma corda fazendo de cinto”.
Lúcio Flávio, só o estilo desparagonado foi fiel ao Menino Grande. As mulheres batiam-lhe a porta, mas as alpargatas Roda lá estavam aos pés, sempre. A elegância, o Maria guardava para as frases, o cinto que veste hoje o jornalista de sempre. Anota essa: “Só há uma Semana Santa; nas outras, vocês matem quem quiser”.
De Thomas Martin Ossowicki: “Tenho certeza de que você já tentou se equilibrar num stand-up paddle no Nove. Qual é o problema? Título de cidadania implica conhecer a geografia da cordialidade do pedaço e não ficar na nostalgia.”
Tony, o remo em pé na Praia de Ramos, o baião de dois do Romero, no 48 da Ladeira dos Tabajaras, e a piscina de azulejos negros na suíte da dona Mariazinha Guinle, no Copa — em tudo isso já me equilibrei. Não é dica para ficar carioca cool. Faz quem quiser. Li a “Geografia da fome”, do Josué de Castro, mas prefiro “O cego de Ipanema”, do Paulo Mendes Campos. Sobre a nova cordialidade do gentio local, gostaria de citar a bateria dupla e a UPP da Mangueira.
De Elmo Lage, compositor: “Dentre as minhas letras, “Por que será?” tem a ver com a sua crônica do casal brigando na esquina: ‘O amor de vez em quando apronta (...) Esquece os beijos trocados na esquina/ Menospreza as pulsações, os batimentos/ Apaga os registros dos belos momentos’”.
Elmo, não se impressione, não. O amor é assim mesmo. De vez em quando vai ali na esquina tomar um ar. Mas volta. Às vezes com novos cabelos, outros papos, um jeito diferente de beijar ou com a notícia de que agora é para sempre. Acredite e faça outra música, embora, cá entre nós, o “Bolero” do Ravel já tenha dito tudo sobre esse vai-e-vem, o tira-e-bota dessa tragédia sem sentido e dolorosa.
De David Augusto Guimarães: “O citado galo na crônica sobre Portugal não seria de Barcelos, ao invés de Évora? O programa do Francisco José era na TV Continental. Abraços do patrício”.
David, é tanto vinho Dão nos acorrendo pelas veias dos tremoços, mais a ansiedade de acabar com todos esses textos e me jogar nos dois braços dela à minha espera, que de vez em quando tropeço cá nos tamancos. Os galos estão espalhados, cantam fados tristes pelas cidades, cômodas e penteadeiras da memória. Só não há mais galo é aqui ao lado, no sopé do Cantagalo.
De Branca Amado: “Quem resiste à tentação do Facebook? É minha primeira página própria, meu público próprio, com direito a comentários positivos e aprovações. Reparou que não há críticas no FB?”.
Branca, esse negócio de criticar os outros é do tempo do onça, do Paulo Francis, do José Fernandes e até mesmo do Mongol, aquele vilão que se aproveitava de uma distração do juiz e puxava o cabelo, enfiava o dedo nos olhos dos mocinhos do Telecatch Rum Montilla. O negócio agora é ser gente boa, fazer lekeleke e agregar valor, se é que você está me compartilhando o tirocínio.
De Mathilda Kovak: “Ih, amigo, tá tudo dominado. O Morro da Conceição virou point de artistas plásticos e metidos quetais. Acho que, agora, só a lua. Mesmo assim, tem que ser rápido, porque vai ser invadida e descaracterizada do mesmo modo. É tudo tão estereotipado neste século chinfrim...”.
Math, levei sua questão ao Moacyr Luz, doutor em Morro da Conceição. Ele me disse que mal não há em a Praça Mauá visitar. Te convidou para fazer o de sempre. Entrar pela Sacadura Cabral, ali na esquina onde o Gracioso está se recuperando de um incêndio, e ir subindo o morro. Cruzar a Travessa do Sereno, pegar a Rua do Jogo da Bola e se lambuzar com uma sardinha ao azeite no Bar do seu Odílio. Ele agarantche. Ninguém metido. É morro família.
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