FOLHA DE SP - 14/02
BRASÍLIA - Impossível discordar de dom Cláudio Hummes quando ele diz que "será difícil [para o novo papa] simplesmente dizer sim àquilo que é proposto pela sociedade ou pelos legisladores hoje em dia".
Arcebispo emérito de São Paulo e um dos cinco brasileiros que votam e podem ser votados no conclave para a escolha do sucessor de Bento 16, dom Cláudio referia-se à extensa lista que separa a Igreja Católica da sociedade contemporânea -e dos fiéis, portanto.
Como temas centrais, a recusa a contraceptivos e camisinhas, casamento gay e a própria homossexualidade, ordenação de mulheres e o debate sobre o celibato dos padres, pesquisas com células-tronco e o aborto até em caso de estupro.
Se é difícil dizer sim, fica cada vez mais arriscado só dizer não. Os ataques especulativos de outras igrejas têm tido enorme sucesso, especialmente em países emergentes, mais jovens, muito populosos e menos letrados. O Brasil, apontado como o maior país católico do mundo, é o melhor exemplo.
Isso se torna ainda mais grave, até constrangedor, quando confrontadas a rigidez da lista de proibições para o público externo, os fiéis, e a elasticidade das concessões para o interno, bispos e padres.
Ao mesmo tempo em que desaprova a homossexualidade e se recusa a discutir o celibato dos padres, o Vaticano faz vistas grossas para as denúncias de pedofilia.
Elas pipocam na igreja em diferentes partes do mundo e mancham o legado de Bento 16. Como escreveu Julia Sweig ontem, com todas as letras, a isso se chama hipocrisia.
O mundo certamente reza, ou torce, por um papa mais jovem, mais arejado, fora do eixo europeu e que, obviamente sem negligenciar a doutrina, seja mais aberto à evolução da ciência e à dinâmica da sociedade e de suas demandas. Fácil não é, mas nada é impossível depois de 2.000 anos de existência e de poder.
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