quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Obama e o fim da exportação de empregos - RICARDO GALUPPO

BRASIL ECONÔMICO - 14/02

No discurso de Estado da União, feito na terça-feira passada - e que marcou o início de seu segundo mandato - o presidente Barak Obama deu um recado claro para quem ainda vê os Estados Unidos como uma economia que abdicou da indústria e se voltou de corpo e alma para os serviços.

Obama disse que seu país quer, sim, ampliar a oferta de vagas na indústria e que ficou para trás o tempo "de uma economia enfraquecida pela transferência de empregos para o exterior".

As empresas americanas, nos últimos anos, foram protagonistas de um movimento que parecia não ter volta. Uma parte importante da manufatura do país foi transferida para o exterior e alguns segmentos foram simplesmente abandonados.

Nos Estados Unidos não se produz, por exemplo, um único aparelho de rádio ou de televisão. Em muitos ramos industriais, as empresas americanas fizeram o movimento de transferir a manufatura para o exterior e conservar em seu território apenas o centro das decisões estratégicas e financeiras.

A novidade é que, de repente, elas estão voltando a produzir em território americano. E, claro, gerando empregos de qualidade nos Estados Unidos.

A venda de automóveis feitos no país (e não apenas modelos de marcas americanas montados no México e em outros lugares) aumentou no ano passado. Pela primeira vez em mais de uma década, o número de trabalhadores contratados pela indústria aumentou em relação ao ano anterior.

O movimento, claro, é interessante e dá uma amostra do quanto a indústria é (e ainda será por muito tempo) uma referência importante de solidez de uma economia. Uma das causas da força da Alemanha em relação às economias enfraquecidas da Europa é o tratamento que Berlin, nas últimas décadas, deu ao emprego industrial.

Enquanto os demais países tentaram garantir a qualidade de vida da população forçando o Estado a gastar mais do que podia, a Alemanha preferiu estimular a produção industrial - garantindo, sempre que necessário para a manutenção da competitividade, condições vantajosas em termos de tarifas e tributos.

O movimento, claro, não deve passar despercebido no Brasil. Nos últimos anos, o emprego industrial tem minguado por aqui - e as medidas que o governo tem tomado para estimular a produção nunca surtem o efeito necessário.

Isso porque, todos sabemos, os custos da contratação de pessoal entre nós são tão intensivos que praticamente minam a capacidade de competição nos ramos industrias mais sofisticados (justamente aqueles que pagam os salários mais elevados e geram os empregos mais sólidos).

A questão é que os empregos perdidos aqui em razão de uma lógica fiscal caduca e de uma realidade tributária que não permite a ninguém fazer planejamento de longo prazo estão sendo criados em outros lugares do mundo. E, o que é pior para nós, em economias muito mais competitivas do que a brasileira.

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