CORREIO BRAZILIENSE - 11/02
Ontem, falamos aqui do enredo da “Acadêmicos de Dilma”. Hoje, vamos continuar no carnaval, falando de seus adversários. Sinceramente, tenho encontrado muita gente com saudade dos tempos em que o PT era oposicionista. Aquela aguerrida bancada pequena e barulhenta dos anos 1990, que não dava trégua aos governistas. Aprovar o Orçamento? Só no último minuto. Saiu uma denúncia na imprensa? Qualquer brecha era motivo para pedir uma CPI. Menos de meio ponto a mais na inflação? Lá iam os petistas para o supermercado mostrar que o salário mínimo não enchia o carrinho com os produtos básicos para fechar o mês. Era a senha para dizer que o dinheiro não dava para pagar outras contas, com aluguel, transporte e lá vai. Greve dos servidores públicos? Lá estavam os partidos de esquerda fazendo coro, com o “fora, presidente!”, desde os tempos de José Sarney até a temporada de Fernando Henrique Cardoso.
Naquele ziriguidum da oposição, o governo que se desdobrasse para explicar que a situação das contas públicas não permitia maiores aumentos. Lembro-me dos tempos em que o então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso não saía da TV, dizendo que às vezes era preciso dizer não para dizer sim mais à frente. E o PT considerava absurda essa ideia. Quando o PMDB conquistava um cargo, sempre aparecia um petista fazendo um carnaval para criticar o toma lá dá cá.
Hoje, a oposição está mais para os concertos de orquestra de câmara do que propriamente carnavalesca. Não está preparada para sacudir as arquibancadas com um samba empolgante ou conquistar os camarotes, com charme e harmonia. Não se vê as alegorias dos carrinhos de supermercado, embora os brasileiros que fazem suas próprias compras nos estabelecimentos de todo o país estejam reclamando bastante dos preços. Começa a ressurgir a cena do cidadão chegar ao caixa do supermercado com uma quantidade de produtos no carrinho e descartar parte deles na hora em que percebe que a conta vai ficar mais salgada do que o previsto. Pode reparar.
Nessa cena, onde está a “Unidos do PSDB”, o “Grêmio Recreativo do DEM” ou a “Comunidade do Samba PPS”? Talvez, como mencionei num artigo escrito para o Correio ainda em 2003, tenham se beneficiado tanto tempo do carro oficial que perderam a habilidade de dirigir. Ou estejam tão focados em seus projetos estaduais que não tenham tido “tempo” de cuidar do plano nacional. Da parte dos tucanos, a promessa é rever esse marasmo oposicionista logo depois do carnaval. Em 25 de fevereiro, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato do partido à Presidência da República, fará uma palestra na convenção do PSDB paulista. “O PSDB e os novos desafios para o Brasil.” Talvez a reunião também sirva para que os tucanos paulistas abracem a pré-candidatura alinhavada pelo partido, coisa que até agora não ocorreu.
O DEM, por sua vez, hoje está mais focado em dar certo na prefeitura de Salvador e, dali, recuperar território, do que propriamente montar um projeto nacional para 2014. O PPS, por sua vez, espera para ver o que será de Marina Silva e José Serra, ambos convidados para ingressar no partido. No caso de Marina, é observar se ela conseguirá montar o partido até outubro deste ano, em tempo de concorrer às eleições de 2014. Quanto a Serra, é preciso saber se ele continuará no PSDB ou irá para outro partido a fim de buscar pela terceira vez a candidatura presidencial.
Enquanto isso…
Se o PSDB não conseguir demonstrar harmonia e charme suficientes para atrair os políticos (a turma dos camarotes) e um discurso capaz de levantar as arquibancadas, leia-se o povo; o frevo de Eduardo Campos, o governador de Pernambuco, pode “dar samba”. Neste carnaval, ele está percorrendo seu estado, fechado nas festas pernambucanas — que não são poucas! — exatamente para não dar ao PT a ideia de que testa sua popularidade em outros carnavais. Participou da abertura do carnaval, no Marco Zero do Recife, foi ao Galo da Madrugada e, ontem, estava no interior do estado, prestigiando os Papangus de Bezerros.
Enquanto Eduardo faz seu dever de casa carnavalesco, não deixa de dar uma pitada na política. Uma delas foi criticar as reclamações que o PMDB tem feito a respeito do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Isso, juntando as ações do PSB contra a eleição dos peemedebistas para comandar a Câmara e o Senado, deu ao governador muito mais visibilidade do que obteve o PSDB no mesmo período. Ou os tucanos saem logo da toca e ocupam a oposição, ou parte desse espaço terminará dominado por Eduardo Campos. Afinal, o desfile eleitoral está apenas começando. Ainda tem muita avenida pela frente.
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