Desafio para reunião de hoje da Rede Pró-Partido está em mostrar que agremiação não se apoiará só no patrimônio eleitoral de Marina Silva
Após conseguir perto de 20 milhões de votos nas eleições presidenciais de 2010, sem eximir-se de alguma identidade ideológica, a ex-senadora Marina Silva -que escreve uma coluna semanal para esta Folha- detém capital político suficiente para se aventurar na construção de um novo partido.
Mais que isso, haveria algo de incompleto no espectro partidário brasileiro sem uma legenda capaz de representar as ideias e organizações que seu nome mobiliza.
Em tese, o lugar estaria reservado ao PV (Partido Verde), que, entretanto, terminou como legenda de aluguel de luxo na campanha de 2010. Logo se deu o choque entre líderes da sigla e o poder pessoal da candidata que acolheram.
Depois de muitos anos filiada ao PT, dessa passagem meteórica pelo PV e de alguma aproximação com o PPS, Marina Silva lança agora uma nova agremiação, provisoriamente chamada de Rede Pró-Partido (o nome será definido hoje, num encontro em Brasília).
Pelo benefício de um mínimo de estabilidade e clareza para o eleitor, é de esperar que a ex-senadora finalmente encontre uma plataforma sólida para suas aspirações.
A agremiação já surge com suas ambiguidades e contradições. Seria, em tese, o ponto de encontro dos que defendem uma visão mais contemporânea do desenvolvimento, atenta para a necessidade de que ele seja sustentável e para a assimilação de comunidades autônomas, hoje marginalizadas, no processo de criação de riqueza.
Ou seja, algo bastante diferente do modelo varguista que, grosso modo, persiste no presente governo federal: grandes obras de infraestrutura, algumas problemáticas do ponto de vista ambiental, aliadas ao paternalismo redistributivo para com populações mais pobres.
A "modernidade", ou "pós-modernidade", de Marina Silva contrasta, todavia, com outras circunstâncias. Em primeiro lugar, seu partido não deixa de surgir como instrumento de uma liderança pessoal, mais do que pela confluência de movimentos descentralizados e capazes de emitir luz própria.
Tanto é assim que já se notam dificuldades na atração de outros nomes representativos, como Eduardo Suplicy ou Heloísa Helena, para o partido "de" Marina. A preposição até agora faz sentido: a ex-senadora, mesmo em razão de seus inegáveis méritos, surge como espécie de "dona" da agremiação.
Diferentemente do PSD "de" Gilberto Kassab, que obteve sucesso instantâneo em arregimentar parlamentares disponíveis a um projeto confessamente sem ideologia, a sigla de Marina há de nascer pequena, sob a égide de um nome reconhecidamente forte nas urnas.
Não é a melhor receita para um partido político, mas é uma força nova, que certamente enriquece o debate e amplia o leque das escolhas sérias à disposição do eleitor.
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