Levantamento do Ibope apontou que mais de 70% dos brasileiros chegam ao fim do mês com menos salário do que precisam e 80% recorrem a algum tipo de crédito para fechar o mês. De acordo com o Banco Central (BC), as dívidas já representam 45% da renda anual da população brasileira, ante 32% na Alemanha e nos EUA. E a maior parte do que é destinado ao pagamento de dívidas vai para os juros (58%), consequência das insanas taxas cobradas no crédito ao consumo no País.
Uma característica cultural brasileira, na qual o que importa é a prestação mensal, e não a taxa de juros, permitiu prosperar o que se convencionou chamar de modelo "Casas Bahia", moldando o plano de financiamento à prestação que coubesse no bolso de cada um.
Enquanto na Coreia do Sul o consumo das famílias representa 53% do PIB, no Brasil já atinge 61% e segue se aproximando dos 70% dos EUA - o país mais consumista do mundo. Além disso, o consumo do governo no Brasil é de 21% do PIB, ante 15% na Coreia do Sul. Como consequência, a nossa poupança é baixíssima: apenas 17%, índice insuficiente para as necessidades de investimento. E a distorção fica maior quando consideramos que o Brasil ainda tem muito mais a fazer - infraestrutura, qualificação de mão de obra, desenvolvimento tecnológico - do que os dois países citados.
Segundo Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC, nos últimos dez anos a poupança do País não subiu mais do que 1,5%, apesar dos significativos ganhos de termos de troca, que estima em 4% do PIB, oriundos, na maior parte, do aumento dos preços das commodities. Os 2,5% restantes acabaram direcionados ao aumento do consumo, via transferências governamentais de renda e créditos direcionados, com subsídios, a setores e empresas eleitos pelo governo.
O Brasil não aproveitou os ganhos extraordinários com o ciclo de alta das commodities para investir em competitividade. Para Jim O'Neill, do Goldman Sachs, os políticos brasileiros ficaram acomodados porque foi possível crescer sem muito esforço. Agora, que o consumo perde vigor, a expansão da economia começa a ratear.
Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia da FGV e um dos fundadores do Movimento Brasil Eficiente (MBE), afirma que o crescimento medíocre da nossa economia nos dois últimos anos, apesar da bateria impressionante de estímulos para aquecer os negócios, indica que "estamos encalhados numa armadilha de baixo crescimento". Enquanto o investimento em infraestrutura ficar rastejando em torno de 2% do PIB e a taxa de investimento total da economia ficar abaixo de 20%, continuaremos presos nessa armadilha, observa Nakano. Para crescermos a taxas sustentáveis de 6% ao ano, esses números devem crescer para 5% e 25%, respectivamente. Mas isso só será possível, diz ele, se fizermos um ajuste estrutural na economia, reduzindo o consumo na mesma proporção - especialmente o consumo do governo, que deveria cair dos atuais 21% do PIB para 15%.
O consumo só sustenta avanços no curto prazo. No médio prazo e ao longo de ciclos econômicos, só taxas de investimento robustas garantem crescimento acelerado. No Brasil, nos últimos anos, o aumento do consumo público levou a uma elevação da carga tributária de mais de 10% do PIB. Para reverter esse círculo vicioso é preciso que o gasto dos governos cresça menos do que o PIB, o que permitiria uma imprescindível recuperação da produtividade geral da economia brasileira.
Também o economista Raul Velloso, cofundador do MBE, garante que o País não conseguirá um avanço sustentável se não substituir o atual modelo de alto consumo público por outro de alto investimento. Dilma Rousseff e parte de sua equipe já perceberam isso. Alguns parlamentares também. Mas poucos. O MBE tem conversado com ministros e trabalhado para criar uma bancada mista no Congresso Nacional que olhe um pouco além da próxima eleição, para, junto com as mais de 130 entidades apoiadoras, criar um círculo virtuoso condizente com o potencial do Brasil.
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