domingo, fevereiro 03, 2013

Mudança na política cambial - SAMUEL PESSÔA

FOLHA DE SP - 03/02

Muito provavelmente ao longo deste ano o real ficará estável ante o dólar ou vai se valorizar


No fim do ano passado, em razão de saídas de capitais típicas de fim de ano, o BC (Banco Central) colocou R$ 1,8 bilhão em "swaps" de câmbio. Essa operação é equivalente à venda de dólares no mercado futuro. Força para baixo, portanto, as cotações da moeda americana contra o real.

O objetivo era neutralizar o impacto sobre o câmbio da saída de capital fortemente sazonal. A ação fazia todo o sentido porque o mandato do BC na gestão das reservas internacionais é evitar fortes oscilações do câmbio nominal.

O vencimento dos "swaps" ocorreu no fim do mês passado. Do ponto de vista da sazonalidade dos movimentos de capital, não fazia sentido renovar a operação. Por isso, havia a dúvida se o BC iria renovar ou não os "swaps".

A renovação dos "swaps" sugere que o BC entendeu que a política de desvalorização do câmbio perseguida desde meados de 2011 começou a ter impactos inflacionários apreciáveis.

De fato, o IPCA-15 de dezembro, divulgado pelo IBGE há duas semanas, mostrou forte aceleração da inflação dos bens industriais.

Esse item do IPCA, que apresentara até o terceiro trimestre de 2012 inflação praticamente nula, fechou o ano com mais de 1,5%.

Ficou claro que o espaço que havia para desvalorizar o câmbio nominal sem que houvesse um repasse maior para os preços dos bens industriais terminou.

Assim, muito provavelmente ao longo de 2013 o real ficará estável ante a moeda americana ou se valorizará.

Tudo indica que, conforme nos distanciamos da primeira metade do mandato da presidente Dilma e nos aproximamos do período eleitoral, sai de cena a economista desenvolvimentista formada no departamento de economia da Unicamp e entra em cena a política com vistas à reeleição.

A literatura acadêmica sugere que tentar desvalorizar o câmbio nominal para acelerar o crescimento e aumentar a participação da indústria no produto somente funciona se houver durante algum tempo redução dos salários reais.

A redução do salário real promovida pela aceleração da inflação em seguida à desvalorização do câmbio nominal transfere renda do trabalho ao capital que financiará a elevação do investimento.

A perna desenvolvimentista da política econômica conflita com o objetivo de manter forte o crescimento da renda real.

É possível alegar que, se aceitarmos câmbio real mais desvalorizado e, portanto, salário menor e poupança e participação da indústria no produto maiores, a aceleração do crescimento que se seguirá permitirá à frente ganhos de salários ainda maiores.

O problema é o detalhe contido na expressão "à frente". É necessário esperar. Parece que a política não dará esse tempo aos desenvolvimentistas.

Retorno ao tema da coluna anterior. No domingo passado, o assunto foi o emprego doméstico no Brasil. O tema foi repercutido pela

imprensa em razão da divulgação de um recente estudo da OIT que listou o Brasil na primeira colocação, com 7,2 milhões de empregos domésticos.

Argumentei que, em termos relativos, em 2009 o Brasil estava na

13ª colocação entre os 136 investigados pela OIT. O emprego doméstico representava 7,8% da população ocupada.

Na segunda-feira conferi com meu colega do Ibre, Fernando de Holanda Barbosa Filho, a evolução da participação do emprego doméstico no emprego total de 2009 para 2011.

Segundo a pesquisa nacional por amostra de domicílios do IBGE,

essa participação caiu de 7,8% para 7,1%, ou, em termos absolutos, de 7,2 milhões de trabalhadores domésticos em 2009 para 6,6 milhões em 2011.

Em dois anos, houve redução de mais de 500 mil empregos domésticos em um período em que o emprego total elevou-se em 803 mil.

Nesse mesmo biênio, a renda real do trabalhador doméstico elevou-se em 13%, o que resulta em crescimento médio anual de 6,4%.

Diante desses números, parece que o emprego doméstico vai se extinguir em menos tempo do que a última frase de minha coluna passada sugeriu.

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