O GLOBO - 01/02
Governo Peña Nieto atrai oposição para fazer reformas, a economia cresce 4% com inflação baixa e o país aprimora o ambiente de negócios para atrair investimentos
Em grave crise de segurança pública, o México há tempos deixou de frequentar o noticiário econômico. Passada a euforia do início da década de 90, no período de Carlos Salinas de Gortari — depois, abatido politicamente por várias denúncias de corrupção —, o país entrou num ciclo de incertezas, amplificadas por mais uma grave crise financeira. O fortalecimento da China atraiu linhas de montagens que o Nafta havia levado para a fronteira mexicana com os Estados Unidos, e o país estacionou, enquanto o Brasil, impulsionado pela estabilização econômica do Real, ganhou grande força.
Agora, por uma trapaça das conjunturas históricas dos dois países, as situações se invertem: o México renasce — apesar dos problemas de segurança —, e o Brasil rateia no esgotamento dos efeitos positivos das reformas da Era FH e não consegue criar condições para outro salto.
O elemento catalizador desta nova fase mexicana tem sido o novo presidente, o jovem Peña Nieto, 46 anos, eleito pelo velho PRI, mas com uma agenda animadora de governo, por reformista. E assumiu com grande trunfo: um documento, “Pacto pelo México”, com as reformas, assinado também pelos partidos de oposição. É como se fosse FH em 1995, sem um PT para mover-lhe dura oposição. O entendimento se reflete na composição da equipe de governo, em que há representantes de várias correntes.
Estão na mira de Nieto mudanças para dar flexibilidade à economia: o fim de monopólios, como o das telecomunicações e energia, revitalização da Pemex (a petroleira estatal), inspirada no que foi feito com a Petrobras (pré-PT); reforma tributária, na Educação, etc.
Ajuda o plano de governo de Peña Nieto o fato de a economia do México já se encontrar em boa fase. Somado ao mal momento da economia brasileira, esta circunstância chama ainda mais a atenção dos investidores para o país.
Os números mexicanos são de causar inveja a brasileiros: a economia cresceu algo na faixa dos 4% no ano passado — o dobro da média verificada na última década —, com uma inflação também no nível dos 4%. Para comparar: o Brasil sai de 2012 com um “pibinho” no nível de 1% de expansão, uma inflação já próxima dos 6% e lépida.
Mesmo com juros de 4,5% (7,25% no Brasil), o mercado financeiro do México, segundo o “Financial Times”, atraiu, nos primeiros nove meses de 2012, US$ 57 bilhões, mais que cinco vezes o fluxo para o Brasil. (O Brasil, registre-se, procurou afastar este dinheiro, devido ao câmbio, mas não deixa de ser um dado para análise).
O jornal inglês chama o México de um “Tigre Asteca” que sai “da sombra do Brasil”. A considerar que o governo brasileiro tem assustado os investidores com ações intervencionistas e se aliado no continente a bolivarianos chavistas, enquanto o México se junta, além dos EUA, ao Chile, Colômbia e Peru, para abrir-se ainda mais ao exterior, a diferença entre os dois países tende a ficar mais nítida. Em prejuízo do Brasil.
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