Apesar de ter motivos para comemorar a criação de 1,3 milhão de postos de trabalho em 2012 e a queda da taxa de desemprego para o nível recorde de 4,6% da população economicamente ativa (PEA) em dezembro, o governo precisa moderar o entusiasmo porque o que mais temia pode estar começando a acontecer: a desaceleração da economia já parece afetar o mercado de trabalho.
A influência da economia mais fraca ficou evidente no recente Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que apura a movimentação dos trabalhadores com carteira assinada. Dezembro é um mês em que as demissões costumam superar as contratações, em consequência da entressafra agrícola, término do ciclo escolar e dispensa de temporários contratados nos meses anteriores.
Desta vez, porém, a perda de empregos foi maior do que a sazonalidade sugeria e surpreendeu até os especialistas.
Foram fechadas 496.944 vagas em dezembro, principalmente em setores que vinham puxando o Produto Interno Bruto (PIB) ou estavam sendo estimulados pelo governo - serviços, construção civil, agropecuária e indústria da transformação.
Apesar da vizinhança do pleno emprego, o balanço do ano deixou a desejar. Foram criados 1,301 milhão de postos com carteira assinada em 2012, o que representou um crescimento de 3,43% em relação ao estoque existente em 2011. O governo procurou ressaltar que o total de empregos formais criados desde o início do governo do PT, em 2003, atingiu 18,928 milhões. O número de postos criados em 2012, porém, é 33% menor do que o de 2011, que foi de 1,944 milhão, e o menor desde 2009, auge da crise internacional, quando foram abertos 1,296 milhão de empregos.
Para este ano, o governo espera uma recuperação e a criação de 1,7 milhão a 1,8 milhão de empregos, chegando a 2 milhões se forem incluídas as vagas no setor público, em consequência das medidas adotadas para amenizar a crise, como o corte dos juros, as desonerações e os investimentos em infraestrutura programados.
No entanto, setores pioneiros nas desonerações tiveram desempenho ruim em produção e faturamento (Valor, 23/1) e também em contratação de mão de obra. A indústria da transformação aumentou o número de empregados com carteira assinada em apenas 1% entre 2011 e 2012, o equivalente a 86,4 mil vagas, depois de ter demitido 178 mil apenas em dezembro. Fabricantes de calçados, que contam com a desoneração da folha de pagamentos desde o fim de 2011, cortaram 9,6 mil empregos no ano passado, após terem ceifado 9,5 mil em 2011. A indústria têxtil e do vestuário, também favorecida pela desoneração, manteve o número de postos de trabalho praticamente estável - na verdade, cortou 380 vagas.
No balanço feito pelo Valor, a despeito da desoneração da folha, os setores de confecção e de calçados acompanharam o desempenho da atividade industrial. A vantagem proporcionada pela renúncia fiscal de R$ 1 bilhão, decorrente da troca da contribuição de 20% do valor da folha salarial ao INSS por uma alíquota de 1% sobre o faturamento, permitiu, contudo, um ganho de margem para as empresas ou foi usada para segurar os reajustes de preços.
O setor de serviços foi responsável pela criação do maior número de vagas no ano passado, 666,1 mil; seguido pelo comércio, com 372,3 mil; e pela construção civil, com 149,3 mil. Esses dois últimos setores foram incluídos no programa de desoneração da folha de pagamentos do Plano Brasil Maior em dezembro, e o benefício deve entrar em vigor dentro de dois meses.
A Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE também foi motivo de comemoração pelo governo ao registrar a redução da taxa de desemprego de 4,7% para 4,6% da população economicamente ativa (PEA) entre dezembro de 2011 e igual mês de 2012, nas seis regiões metropolitanas avaliadas. Na série livre de efeitos sazonais, foi detectado, porém, um aumento da taxa de desemprego na margem, de 5,4% para 5,6%, entre novembro e dezembro.
No entanto, a população ocupada continua crescendo ligeiramente mais do que a PEA, 3,1% e 3%, respectivamente, sinalizando que o mercado de trabalho continua apertado, apesar do aumento do desemprego na margem, e justificando a firmeza dos salários.
A experiência dos setores de calçados e vestuário sugere, porém, que o governo deveria monitorar de perto o resultado das desonerações de modo a garantir uma contrapartida em empregos e benefícios aos consumidores.
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