A revista britânica The Economist gosta de distribuir notas aos países da Europa, em geral mais ruins do que boas. Há cinco meses, em novembro, ela maltratou a França, "A bomba de efeito retardado no coração da Europa". O julgamento lógico era o de que The Economist era a "Vestal da economia liberal", revoltada com o fortalecimento de um poder socialista na França.
Ontem, The Economist desancou outro país: a Itália, oito dias antes das eleições legislativas que se realizarão no domingo e na segunda-feira.
Lá, as preferências de The Economist surpreendem ainda mais: a revista escolheu o líder da esquerda, Pierluigi Bersani, ex-ministro da Economia, que já foi comunista.
Como é possível que essa publicação não apoie o atual chefe do governo de Roma, o "bom soldado liberal", Mario Monti, que aplica há mais de um ano uma política de austeridade implacável? Sem dúvida, a revista britânica reconhece que o purgante que Mario Monti ministrou a seus concidadãos não obteve resultados satisfatórios.
De fato, depois de um ano e meio, o quadro não é muito animador: a dívida italiana chega a 2 trilhões, equivalente a 127% do seu Produto Interno Bruto (PIB). A Itália está muito mal das pernas. O país está em recessão há um ano e meio e não conseguirá sair dessa situação antes do fim de 2013, mais provavelmente antes de 2014. Em 2012, o PIB recuou 2,2%.
Contudo, um outro candidato liberal que estará presente nas eleições: Silvio Berlusconi, o insubmergível, o grande amante das donzelas, o "macho à maneira antiga", sempre alegre, vulgar, malicioso.
The Economist detesta Berlusconi desde sempre, tem horror a esse homem que apelidou de "o homem que abusou de um país inteiro". Berlusconi tentou por duas vezes processar a publicação por difamação. Em vão.
Os observadores sérios compartilham da aversão. Mas aqui está algo incompreensível: totalmente coberto de desonra por seus últimos desvios de conduta (orgias, mentiras ...), desprezado, há dois meses, o canastrão Berlusconi era considerado uma figura negligenciável. Hoje, sua recuperação nas pesquisas é tão meteórica que alguns temem sua vitória.
Sem chegar a esse ponto, os especialistas têm outro pesadelo: o resultado poderá ser tão dividido que o vencedor (provavelmente o líder da "esquerda reformista", Pierluigi Bersani) não conseguirá contar com uma maioria estável no Parlamento.
Tal perspectiva seria ainda mais nefasta, pois há um quarto candidato na contenda. Um indivíduo que não é nada. Sujeito dado a insultos, comediante, palhaço (decididamente, palhaço é o que não falta nessa temporada), Beppe Grillo inflama os corações, seduz e faz rir, enquanto denuncia a alarmante corrupção italiana. Suas sondagens de opinião são mirabolantes.
Entretanto, dificilmente Grillo vencerá. Mas fará eleger no Parlamento um bom número de deputados, personagens bizarros e incontroláveis, mas talentosos quanto ele. Violentamente antieuropeu (como Berlusconi), um contingente de deputados de Grillo poderia provocar sérios problemas ao consenso pró-europeu da Itália.
Não se deve subestimar a irrupção dessa formação, no "grande circo" da política italiana. Nestes tempos de esgotamento geral da Europa, de corações transidos, de abatimento moral generalizado, uma figura como a de Beppe Grillo não seduz só a Itália. Ele poderá inspirar, em outros cantos da Europa, personagens dotados, engraçados, ferozes e alheios à "formatação" do político habitual, a também se lançarem na arena política. / Tradução: Anna Capovilla
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