FOLHA DE SP - 24/01
RIO DE JANEIRO - "Dai-me inspiração, ó pai!", implora a tradicional Mangueira no primeiro verso do seu samba, que tem como tema a capital de Mato Grosso, Cuiabá.
Parece um pedido de socorro das escolas de samba cariocas.
"Um raio rasgando o céu cruzou o Borel. É trovoada. Na velocidade da luz, o filho de Odin anuncia a Alemanha encantada, na fantasia de um mundo imortal." É no impensável balanço germânico que a Tijuca vai tentar conquistar o bicampeonato.
"Coreia do Sul, tuas águas cristalinas são espelho. Na cadência da Baixada, deságuam no meu Rio de Janeiro." A estreante Inocentes de Belford Roxo ousou e abusou ao escolher como tema o país asiático.
A Beija-Flor até fez um belo samba a partir do inacreditável enredo sobre o cavalo manga-larga.
Sambas enredos absurdos -em grande parte, por causa de patrocínios-, com letras escalafobéticas, não são novidade. Mas, neste ano, a falta de ritmo e jeito parece ter ultrapassado o limite mesmo daqueles que têm boa vontade com o samba.
O Rio está virando Salvador, e a farra, a cada ano, está mais longa. O prefeito decretou a sexta de pré-Carnaval ponto facultativo para os servidores.
Os blocos já estão pela cidade. Já se vê pelas ruas pessoas despreocupadas e felizes, andando com bebida na mão e peruca colorida na cabeça.
Nos camarotes do Sambódromo, reina nova ordem. A Comissão de Ética Pública do Estado recomendou que autoridades e servidores estaduais não aceitem convites para camarotes de empresas privadas. Os conselheiros do Tribunal de Contas do Município foram proibidos pela Justiça de receber camarotes de graça de um evento a que devem fiscalizar.
Parece uma decisão óbvia como um refrão de Carnaval, mas rigor e compostura de autoridades não combinam com samba. Assim como não combinam Alemanha, Coreia e manga-larga marchador.
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