FOLHA DE SP - 17/01
BRASÍLIA - Vamos ver se a gente está entendendo tudo direitinho. O favorito à presidência da Câmara, Henrique Alves, apresenta emendas parlamentares, o dinheiro é liberado pelo governo, chega à prefeitura e volta feito bumerangue para o gabinete do próprio Henrique, via empreiteira de um assessor?
E a tal "empreiteira" tem contratos de R$ 6 milhões com 20 municípios do Estado do deputado, o Rio Grande do Norte, mas funciona numa casinha praticamente vazia, protegida pelo simpático bode Galeguinho?
Essas reportagens de Leandro Colon, aqui na Folha, não são sobre a disputa pelas presidências de um Poder, um pilar da democracia. São, sim, sobre uma realidade tipicamente brasileira, em que público e privado se embolam num palco mais policial do que político. Isso é Brasil!
O curioso é que tanto Henrique Alves quanto o favorito à presidência no Senado, Renan Calheiros (AL), sabiam perfeitamente que entrar em campanha seria sair do conforto para a guerra. Uma coisa é ser mais um no meio da multidão de 513 deputados ou de 81 senadores. Outra, bem diferente, é disputar a presidência e virar alvo. Era óbvio que os, digamos, "podres" iriam aparecer.
Isso anima candidatos alternativos, como Júlio Delgado (PSB-MG) na Câmara e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) no Senado. As chances são muito pequenas, mas eles se oferecem como voto de repúdio. Será que não há uma parcela de indignados e independentes no Congresso?
Renan e Henrique têm o seu partido, o PMDB, e mais o PT, o Planalto, a base aliada e parte da oposição, a começar do PSDB. É uma folgada maioria, mas minorias também têm seu valor. Precisam ser quantificadas nas eleições de fevereiro.
O risco dos favoritos é assumir as presidências enfraquecidos, acossados pelos aliados e com a imprensa nos calcanhares, exibindo os bodes, galeguinhos ou não, que enxovalham a imagem do Congresso.
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