O GLOBO - 16/01
Sem áreas suficientes para estocar água, o Brasil terá de recorrer cada vez mais a usinas termoelétricas, que geram uma energia mais cara e com mais impacto ambiental
Mesmo as “fontes limpas” de energia causam impacto ambiental, na geração ou no seu uso. O Brasil é privilegiado por compor grande parte de sua matriz energética com fontes limpas, especialmente na geração de eletricidade — pelo menos por enquanto. As pequenas médias e grandes hidrelétricas respondem por mais de 80% da eletricidade que chega aos lares, ilumina cidades, movimenta indústrias e outros tipos de empresas.
A extensão territorial em uma posição geográfica que vai do Equador a zonas temperadas ao sul do continente faz com que o Brasil se beneficie de diferentes regimes de chuvas durante o ano. Por isso, enquanto rios estão caudalosos em uma área, podem estar relativamente secos em outras. Como o sistema elétrico é nacionalmente interligado, por meio de linhas de transmissão que se entrelaçam em determinados pontos de intercâmbio, é possível transferir eletricidade de regiões onde haja excedentes para as que enfrentam escassez temporária. Um órgão colegiado, o ONS, opera esse sistema com reconhecida competência, buscando despachar prioritariamente a energia mais barata e próxima dos centros de consumo, com a preocupação de assegurar uma reserva para o futuro.
Nesse processo, que envolve planejamento plurianual e acompanhamento diário das curvas de oferta e consumo de eletricidade, os reservatórios das hidrelétricas cumprem papel fundamental. A água armazenada em reservatórios é essencialmente o que forma essa reserva. As demais fontes de energia são despachadas, da mais barata para a mais cara, a fim de ajudar na administração dessa reserva, ou então por questões técnicas (reforço da rede junto aos centros de consumo) e disponibilidade sazonal — caso da biomassa nos meses da colheita de cana-de-açúcar, por exemplo.
Os reservatórios no Brasil são antigos. Muitos surgiram em um período que não havia tanta preocupação com o meio ambiente e respeito a comunidades afetadas pela inundação. Por causa disso, foi-se do oito ao oitenta, e as novas hidrelétricas no Brasil são licenciadas sem reservatórios, mesmo quando existe a possibilidade de formá-los com o menor impacto ambiental possível. O resultado é que o país, agora, precisa de uma retaguarda de usinas termoelétricas que, além de gerarem uma eletricidade mais cara, causam mais impacto ambiental que um reservatório com igual capacidade de produção de energia.
É um contrassenso, e, na prática, estamos vendo este ano a consequência dessa política bisonha. A maior parte dos reservatórios se concentra nas regiões Sudeste e Centro-Oeste nas quais as chuvas atrasaram e podem não ser suficientes para recompor o volume de água necessário ao funcionamento previsto das hidrelétricas. Usinas termoelétricas precisarão funcionar por mais tempo, o que pesará sobre as tarifas de energia. E ambientalmente 2013 será um ano negativo, pois o país emitirá mais gases poluentes. A política contrária a reservatórios precisa ser revista.
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