quarta-feira, janeiro 16, 2013

Competitividade brasileira - GUILHERME NASTARI


O Estado de S.Paulo - 16/01


Os custos logísticos da indústria sucroenergética tiveram elevação significativa ao longo de 2012 em todo o Brasil, especialmente em São Paulo.

Para o açúcar, o frete rodoviário com destino ao Porto de Santos, principal destino para a exportação, foi negociado em média a R$ 88,96 por tonelada em setembro. Foi o quarto mês seguido de alta do preço do frete de açúcar, com valorização de 8,2% acima do registrado em agosto. A elevação dos preços do frete de junho a setembro pode ser explicada pelo aumento gradual das exportações de açúcar ao longo dos meses, além da concorrência do transporte de açúcar com outras culturas agrícolas.

Em outubro, o preço do frete de açúcar para Santos estabilizou na cifra de R$ 88,86, em média, no Estado paulista, resultando em aumento de 20,7% no acumulado do ano. No mês, a estabilização foi incentivada pelo aumento do fluxo de açúcar para o mercado externo pelo modal ferroviário, aliviando a demanda pelo modal rodoviário, que ainda é dominante na matriz de transportes brasileira.

O frete de caminhões que transportam etanol no Estado de São Paulo em setembro registrou aumento de 10,7% em média, se comparado ao mês anterior. Outubro freou essa tendência de alta, com redução de 2%, e o frete foi negociado a R$ 90,72/m³, ponderado pelas microrregiões canavieiras. A mudança no cenário pode ser explicada pelo fato de que grandes produtores de etanol estão estocando o biocombustível para comercialização no período entressafra, especialmente de dezembro e janeiro, a fim de obter preços maiores. O preço médio do frete rodoviário de etanol com destino à distribuidora de Paulínia também apresentou redução, com índices apontando menos 5,1%, comparado a setembro. O aumento do frete de etanol acumulado no ano para o Estado de São Paulo chega a 24,5%.

A expressiva valorização no custo do transporte rodoviário ao longo de 2012 foi certamente influenciada pela lei trabalhista 12.619/2012, que entrou em vigor em setembro e estabeleceu novas regras para a jornada de trabalho dos motoristas de caminhão. Entre as principais medidas, a lei limitou a jornada diária dos caminhoneiros ao exigir descanso diário de no mínimo 11 horas para cargas acima de 4,5 toneladas, comprometendo o rendimento nas estradas. Considerando que o transporte de açúcar e etanol aos principais portos é feito, em grande parte, por rodovias, há poucas alternativas imediatas para mitigar os custos adicionais gerados pelas novas regras.

Como reação à lei, o setor de logística foi levado a reajustar, em alguns casos, em mais de 30% o valor do frete, a depender da região e da distância da rota. Além do aumento do frete, a introdução da lei trabalhista que regulamenta a profissão dos motoristas exigirá da indústria investimentos na aquisição de novos veículos aliados à contratação de mais funcionários para atender à demanda por transporte.

A elevação do preço do frete rodoviário em 2012 também é reflexo dos reajustes no preço do diesel na bomba. O governo federal autorizou dois acréscimos no valor do produto na refinaria: o primeiro, em junho, foi de 3,94%; e o segundo foi de 6%, em julho. Como medida para atenuar o impacto desses aumentos na inflação e também para o consumidor, o primeiro aumento foi acompanhado de redução a zero na cobrança da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide). Ainda assim, os reajustes provocaram repasse de até 4% ao consumidor final.

O setor precisa recuperar competitividade no mercado interno e, especialmente, no externo, mas o aumento de custos do frete rodoviário e o subsequente agravamento causado pelas desvalorizações acentuadas que os preços de açúcar e etanol registraram ao longo do ano tornam a situação complexa. Mais do que nunca, é preciso que a indústria sucroenergética busque soluções tecnológicas e de gestão, de forma a atender às fortes demandas por açúcar e etanol do futuro.

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