O GLOBO - 26/01
A semana cheia de notas e comunicados do Banco Central terminou com a notícia de que a inadimplência das pessoas físicas voltou a subir em dezembro. No ano, o calote de seis meses cresceu 15% e já soma R$ 74 bilhões. Isso, apesar de tudo ser favorável: a taxa de desemprego caiu para um nível abaixo de 5%, a média dos juros cobrados das pessoas físicas caiu a 34%, e o prazo alongou-se.
O Banco Central define como "moderado" o ritmo de crescimento do crédito de 16,2%. Da pessoa física, o aumento foi de 17,8% em 2012. O BC vê a desaceleração. Em 2010, cresceu 20%, em 2011, 19%. Então o número parece bom, já que é menor. Mas o que tem que ser visto é que em 10 anos o total de crédito da economia foi de 25% do PIB para 53,5%. Por isso, 16,2% é muito.
O nível de atraso no pagamento das dívidas não cai porque o endividamento continua sendo estimulado pelo governo e pelo Banco Central. Em janeiro de 2005, quando a taxa Selic estava em 18,25%, os brasileiros comprometiam 15,5% da renda mensal com o pagamento de dívidas. Esse é o primeiro dado dessa série estatística. Agora, o percentual da renda comprometida é de 21,5%. Quando o atraso é acima de seis meses, os bancos têm que fazer provisão no valor total do crédito, considerando-o perdido. O sistema financeiro já mantêm R$ 74 bi desse crédito podre em seus balanços. Somando todo o crédito inadimplente, a provisão chega a R$ 130 bilhões.
Na ata do Copom, o Banco Central mudou o tom. Alertou que o balanço de riscos para a inflação aumentou, ressaltou que está havendo um aumento da dispersão: os aumentos de preços estão se espalhando por produtos e serviços. E disse que a alta de preços está mais resistente. Isso contraria o que tem sido dito no Ministério da Fazenda, mas é uma atitude mais sensata do Banco Central. Esse é o seu mandato, manter a inflação na meta, que é 4,5%. Ao endurecer o tom, o BC se esforça para afastar as dúvidas de que ele realmente esteja determinado a buscar o centro da meta.
O bom momento do emprego e o crescimento da renda ajudam, mas é preciso lembrar que a inflação permanece alta há dois anos, e ela corrói um pedaço maior dos salários. A inflação das famílias de baixa renda, medida pelo INPC, está ainda mais alta, porque tem um peso maior dos alimentos.
Uma boa notícia foi a forte redução da inadimplência do setor de veículos. Chegou a 9,1% em abril e fechou o ano em 6,5%. Mas, na outra ponta, cresceram os atrasos nos pagamentos de cheque especial, que subiram de 12,1% para 14%.
Outra novidade da ata foi o BC estimar pela primeira vez em muito tempo o reajuste do preço da gasolina. Calculou em 5%. Ao estimar que a queda da energia será de 11%, deve ter levado uma bronca, porque ontem soltou nota dizendo que está refazendo os cálculos. O problema é que as tarifas serão revistas em todas as concessionárias ao longo do ano para compensar custos que tiveram. Um desses será o uso das usinas termelétricas, que não se sabe quanto tempo ficarão ligadas. O BC não disse como chegou aos 11%, mas é razoável supor que no decorrer do ano a queda anunciada agora seja reduzida pelos reajustes dos preços.
Outro dado divulgado na semana é o das contas externas. O Brasil continua recebendo um volume impressionante de investimento estrangeiro. O fluxo foi de US$ 65,3 bi, o que deu com folga para cobrir o déficit em transações correntes. Apesar da alta do dólar, os brasileiros continuaram aumentando os gastos no exterior, que chegaram a US$ 22 bilhões. Apenas um quarto desse valor é gasto pelos estrangeiros no Brasil.
Os dados e notas divulgados pelo BC não traçam o quadro de um país em crise, mas de uma economia que precisa de muitos ajustes.
O Banco Central define como "moderado" o ritmo de crescimento do crédito de 16,2%. Da pessoa física, o aumento foi de 17,8% em 2012. O BC vê a desaceleração. Em 2010, cresceu 20%, em 2011, 19%. Então o número parece bom, já que é menor. Mas o que tem que ser visto é que em 10 anos o total de crédito da economia foi de 25% do PIB para 53,5%. Por isso, 16,2% é muito.
O nível de atraso no pagamento das dívidas não cai porque o endividamento continua sendo estimulado pelo governo e pelo Banco Central. Em janeiro de 2005, quando a taxa Selic estava em 18,25%, os brasileiros comprometiam 15,5% da renda mensal com o pagamento de dívidas. Esse é o primeiro dado dessa série estatística. Agora, o percentual da renda comprometida é de 21,5%. Quando o atraso é acima de seis meses, os bancos têm que fazer provisão no valor total do crédito, considerando-o perdido. O sistema financeiro já mantêm R$ 74 bi desse crédito podre em seus balanços. Somando todo o crédito inadimplente, a provisão chega a R$ 130 bilhões.
Na ata do Copom, o Banco Central mudou o tom. Alertou que o balanço de riscos para a inflação aumentou, ressaltou que está havendo um aumento da dispersão: os aumentos de preços estão se espalhando por produtos e serviços. E disse que a alta de preços está mais resistente. Isso contraria o que tem sido dito no Ministério da Fazenda, mas é uma atitude mais sensata do Banco Central. Esse é o seu mandato, manter a inflação na meta, que é 4,5%. Ao endurecer o tom, o BC se esforça para afastar as dúvidas de que ele realmente esteja determinado a buscar o centro da meta.
O bom momento do emprego e o crescimento da renda ajudam, mas é preciso lembrar que a inflação permanece alta há dois anos, e ela corrói um pedaço maior dos salários. A inflação das famílias de baixa renda, medida pelo INPC, está ainda mais alta, porque tem um peso maior dos alimentos.
Uma boa notícia foi a forte redução da inadimplência do setor de veículos. Chegou a 9,1% em abril e fechou o ano em 6,5%. Mas, na outra ponta, cresceram os atrasos nos pagamentos de cheque especial, que subiram de 12,1% para 14%.
Outra novidade da ata foi o BC estimar pela primeira vez em muito tempo o reajuste do preço da gasolina. Calculou em 5%. Ao estimar que a queda da energia será de 11%, deve ter levado uma bronca, porque ontem soltou nota dizendo que está refazendo os cálculos. O problema é que as tarifas serão revistas em todas as concessionárias ao longo do ano para compensar custos que tiveram. Um desses será o uso das usinas termelétricas, que não se sabe quanto tempo ficarão ligadas. O BC não disse como chegou aos 11%, mas é razoável supor que no decorrer do ano a queda anunciada agora seja reduzida pelos reajustes dos preços.
Outro dado divulgado na semana é o das contas externas. O Brasil continua recebendo um volume impressionante de investimento estrangeiro. O fluxo foi de US$ 65,3 bi, o que deu com folga para cobrir o déficit em transações correntes. Apesar da alta do dólar, os brasileiros continuaram aumentando os gastos no exterior, que chegaram a US$ 22 bilhões. Apenas um quarto desse valor é gasto pelos estrangeiros no Brasil.
Os dados e notas divulgados pelo BC não traçam o quadro de um país em crise, mas de uma economia que precisa de muitos ajustes.
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